O Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que é utilizado no mercado de curto prazo de energia elétrica e serve como base para contratos fechados entre agentes, está no nível mais alto dos últimos anos, chegando à casa dos R$180 por MWh no submercado Sudeste/Centro-Oeste. A situação,porém, acontece no mesmo momento em que os reservatórios de hidrelétricas apresentam bons níveis de armazenamento e tanto as distribuidoras quanto a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontam sobras de energia contratada.
"O que a gente percebe é que os vetores do setor elétrico estão dando sinais econômicos completamente... indefinidos. Está cada coisa para um lado, não está se convergindo para um sinal de preços coerente. É muito paradoxal, porque essas variáveis deveriam convergir", analisa o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federa do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ).
"Também acho estranho. Você tem sobra de energia e tem preços altos, tudo isso convivendo ao mesmo tempo. A gente sabe que fisicamente isso não poderia acontecer. Acho bastante distorcido", concorda o pesquisador Lúcio de Medeiros,do Lactec, que escreveu uma tese de doutorado sobre a formação de preços no mercado de energia brasieiro.
Ele lembra que pouco antes do início do racionamento, no começo de 2001, os preços caíram, embora todos já previssem a disparada de custos que viria em seguida. Para ele, a situação tem origem no Newave, programa utilizado, junto com o Decomp, para formar o PLD. "O modelo não é perfeito. O Newave não é um previsor de preço, ele não dá uma sinalização de preço. O preço não é dado pelo mercado, mas pelo software", explica.
Outro fator que tem criado artificialidade nos preços é a consideração, no planejamento, de termelétricas que provavelmente não entrarão em operação. São usinas do Grupo Bertin e da Multiner, principalmente, que já deveriam estar gerando energia, mas ainda não tiveram obras iniciadas e passam por diversas alterações de cronograma.
"A opinião do grupo é que isso devia ter sido retirado rapidamente (do planejamento), porque ficou uma situação irreal. Sempre achamos que essas usinas não vão sair", aponta Castro, do Gesel. Para ele, caso essas usinas sejam definitivamente retiradas do horizonte, isso "obviamente afetará o PLD", que deve ter alta.
Um agente do mercado que conversou informalmente com a reportagem mostrou preocupação com a questão, acreditando em uma possível disparada dos custos da energia - num momento em que os valores já estão num patamar bem acima da média.
Castro, do Gesel, avalia que "talvez não seja o momento" de tirar essas usinas do planejamento, justamente por causa dos preços elevados. Ele aponta, porém, que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve discutir em breve uma proposta de distribuidoras para suspender contratos das usinas atrasadas da Bertin. "É uma operação casada...tirar esses contratos, ou boa parte deles, e ao mesmo tempo tirar da demanda das distribuidoras. A princípio, tudo indica que isso não iria afetar o PLD. Talvez seja a alternativa".
Lúcio de Medeiros lembra que a questão passa pela informação entra no software que calcula os custos da energia. "Coloca-se as usinas que acredita-se que vão entrar. E a gente sabe, historicamente, que isso não acontece (elas não entram na data prevista). O problema é mais de você ter as melhores entradas possíveis (de dados) no modelo. E isso passa por ter uma base de usinas que vão realmente entrar", explica. Ele ainda cita uma expressão em inglês que poderia exemplificar uma possível artificialidade do momento. "Garbage in, garbage out" - que pode ser traduzida como "lixo entra, lixo sai".
Para Castro, as usinas da Bertin são como o romance de Garcia Márquez - "Crônica de uma morte anunciada". "Elas ja´saíram atrasadas e o agente entrou em um jogo de protelação, via sistema judiciário. Falta alguma coisa para agilizar a tomada de decisão em casos de grupos que não estão respondendo a suas responsabilidades contratuais. Você está criando um estresse desnecessiário. O setor, a regulação, não deveria permitir isso, que é uma situação irreal", conclui.
O gerente de preços da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Gustavo Arflux, explica que "o PLD é muito sensível a afluências" e que esse foi o principal fator para a contínua alta do indicador nas últimas semanas. Chuvas abaixo do previsto levaram à retirada de quase 38 mil MWmédios das previsões de energia entre fevereiro e março. "O nível de armazenamento dos reservatórios está confortável. O que faz o preço subir é o comportamento das afluências (chuvas)".
Questionado sobre a possível saída das térmicas atrasadas das previsões, Arflux diz que "esse tipo de análise é feito internamente" na CCEE,mas não pode ser divulgado à imprensa. De qualquer maneira,ele afirma que "o mercado já está preparado para lidar com essas altas de preço" e que o impacto dessas últimas variações "não deve ser muito forte". (Jornal da Energia)
Leia também:
* Atrasos e conflitos viram regra em usinas
* Artigo: O PIB de 2011 e o setor de energia
* Rápida expansão do mercado livre preocupa, diz Gesel
* Presidente já reduziu áreas protegidas em prol das hidrelétricas
* Prazos referentes ao PROINFA serão discutidos em audiência pública
"O que a gente percebe é que os vetores do setor elétrico estão dando sinais econômicos completamente... indefinidos. Está cada coisa para um lado, não está se convergindo para um sinal de preços coerente. É muito paradoxal, porque essas variáveis deveriam convergir", analisa o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federa do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ).
"Também acho estranho. Você tem sobra de energia e tem preços altos, tudo isso convivendo ao mesmo tempo. A gente sabe que fisicamente isso não poderia acontecer. Acho bastante distorcido", concorda o pesquisador Lúcio de Medeiros,do Lactec, que escreveu uma tese de doutorado sobre a formação de preços no mercado de energia brasieiro.
Ele lembra que pouco antes do início do racionamento, no começo de 2001, os preços caíram, embora todos já previssem a disparada de custos que viria em seguida. Para ele, a situação tem origem no Newave, programa utilizado, junto com o Decomp, para formar o PLD. "O modelo não é perfeito. O Newave não é um previsor de preço, ele não dá uma sinalização de preço. O preço não é dado pelo mercado, mas pelo software", explica.
Outro fator que tem criado artificialidade nos preços é a consideração, no planejamento, de termelétricas que provavelmente não entrarão em operação. São usinas do Grupo Bertin e da Multiner, principalmente, que já deveriam estar gerando energia, mas ainda não tiveram obras iniciadas e passam por diversas alterações de cronograma.
"A opinião do grupo é que isso devia ter sido retirado rapidamente (do planejamento), porque ficou uma situação irreal. Sempre achamos que essas usinas não vão sair", aponta Castro, do Gesel. Para ele, caso essas usinas sejam definitivamente retiradas do horizonte, isso "obviamente afetará o PLD", que deve ter alta.
Um agente do mercado que conversou informalmente com a reportagem mostrou preocupação com a questão, acreditando em uma possível disparada dos custos da energia - num momento em que os valores já estão num patamar bem acima da média.
Castro, do Gesel, avalia que "talvez não seja o momento" de tirar essas usinas do planejamento, justamente por causa dos preços elevados. Ele aponta, porém, que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve discutir em breve uma proposta de distribuidoras para suspender contratos das usinas atrasadas da Bertin. "É uma operação casada...tirar esses contratos, ou boa parte deles, e ao mesmo tempo tirar da demanda das distribuidoras. A princípio, tudo indica que isso não iria afetar o PLD. Talvez seja a alternativa".
Lúcio de Medeiros lembra que a questão passa pela informação entra no software que calcula os custos da energia. "Coloca-se as usinas que acredita-se que vão entrar. E a gente sabe, historicamente, que isso não acontece (elas não entram na data prevista). O problema é mais de você ter as melhores entradas possíveis (de dados) no modelo. E isso passa por ter uma base de usinas que vão realmente entrar", explica. Ele ainda cita uma expressão em inglês que poderia exemplificar uma possível artificialidade do momento. "Garbage in, garbage out" - que pode ser traduzida como "lixo entra, lixo sai".
Para Castro, as usinas da Bertin são como o romance de Garcia Márquez - "Crônica de uma morte anunciada". "Elas ja´saíram atrasadas e o agente entrou em um jogo de protelação, via sistema judiciário. Falta alguma coisa para agilizar a tomada de decisão em casos de grupos que não estão respondendo a suas responsabilidades contratuais. Você está criando um estresse desnecessiário. O setor, a regulação, não deveria permitir isso, que é uma situação irreal", conclui.
O gerente de preços da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Gustavo Arflux, explica que "o PLD é muito sensível a afluências" e que esse foi o principal fator para a contínua alta do indicador nas últimas semanas. Chuvas abaixo do previsto levaram à retirada de quase 38 mil MWmédios das previsões de energia entre fevereiro e março. "O nível de armazenamento dos reservatórios está confortável. O que faz o preço subir é o comportamento das afluências (chuvas)".
Questionado sobre a possível saída das térmicas atrasadas das previsões, Arflux diz que "esse tipo de análise é feito internamente" na CCEE,mas não pode ser divulgado à imprensa. De qualquer maneira,ele afirma que "o mercado já está preparado para lidar com essas altas de preço" e que o impacto dessas últimas variações "não deve ser muito forte". (Jornal da Energia)
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