quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um novo apagão elétrico

Em 2011 foram registrados quatro grandes blecautes no Sistema Interligado Nacional (SIN), ou seja, interrupções com corte de carga maior que 700 MW. Apesar do menor número de ocorrências observadas até o mês de julho se comparado ao mesmo período de 2010, o total da carga interrompida foi 12% maior. Até julho, foram registradas 237 ocorrências equivalentes a uma carga interrompida de aproximadamente 29 mil MW no SEB.

O mês de fevereiro destacou-se pela carga interrompida de 11 mil MW, valor que reflete o apagão ocorrido no subsistema do Nordeste com corte de carga próximo a 8 mil MW e a dois blecautes registrados na cidade de São Paulo, com corte de 1.900 MW, as áreas de concessão da Eletrobras Chesf e da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP).

Diferentemente do apagão ocorrido em 2001, as falhas recentes no fornecimento de energia elétrica não estão relacionados à escassez na geração de energia, mas sim à limitação da qualidade no provimento dos serviços ao consumidor. Os blecautes ocorridos no subsistema do Nordeste e o desligamento das linhas de Itaipu foram resultado de falhas no sistema de transmissão, que vem sofrendo com falta de investimentos, manutenção e modernização. Nota-se que, após o apagão de 2001, as atenções do governo se voltaram para a geração de energia, e as questões transmissão e distribuição foram deixadas em segundo plano.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não tem cumprido eficientemente sua tarefa de fiscalizar e regular os investimentos das concessionárias na conservação das suas linhas de transmissão e distribuição. Outro problema que vem se apresentando é a baixa qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras. O desempenho da qualidade dos serviços prestados pelas distribuidoras de energia elétrica é medido pela Aneel através dos indicadores de Duração Equivalente de Interrupções (DEC) e da Frequência Equivalente de Interrupções (FEC). Em 2009 a queda no fornecimento de energia elétrica ao consumidor brasileiro foi de 19 horas, em média, o maior valor desde 1999. Embora em 2010 o DEC tenha reduzido para 18 horas, o valor permanece alto, considerando o desempenho dos últimos cinco anos.

Para o futuro, além da questão sobre a transmissão e distribuição, outro fator que pode comprometer a robustez do sistema elétrico brasileiro é a forma de operação do SIN, que foi concebida para o gerenciamento de grandes hidrelétricas com reservatórios plurianuais. Entretanto, com a construção de novas usinas a fio d’água, que não possuem regularidade no fornecimento de energia elétrica, a entrada em operação de usinas térmicas será cada vez mais necessária para garantir confiabilidade ao sistema. Outro fator agravante é a entrada na matriz elétrica de novas fontes de energéticas com características sazonais, como é o caso das eólicas e térmicas a biomassa. Desta forma, a operação do sistema deve considerar as peculiaridades dos novos empreendimentos e ser adaptada para a nova realidade da matriz elétrica brasileira. Autor: Adriano Pires Diretor do Centro Brasileiro de InfraEstrutura -CBIE (Brasil Econômico)


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