É inegável o avanço obtido pelo programa Luz para Todos nos últimos oito anos. Entretanto, ainda restam muitas ligações a serem feitas até que o Brasil possa, enfim, ter todos os seus cidadãos com acesso à energia elétrica. Além disso, a cada novo degrau que o programa avança, mais complicadas e caras se tornam as novas ligações, que vão se estendendo a regiões cada vez mais isoladas.
A segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), lançada em março de 2010, prevê que o LPT será prorrogado para até 2014, com a realização de 500 mil ligações e investimentos de R$ 5,5 bilhões. Para efetivar isso, o governo precisa publicar um decreto adiando o prazo final do programa, que deve terminar em dezembro deste ano.
A meta do PAC 2 será acrescida às 310 mil eletrificações previstas oficialmente no LPT para 2011. Assim, na prática, ainda restam 810 mil atendimentos, algo entre 3,2 milhões e 4 milhões de pessoas a serem contempladas com luz. A meta oficial do LPT, sem considerar a demanda do PAC 2, é de 2,9 milhões de ligações, das quais 2,6 milhões já foram realizadas até o fim de 2010.
Mais que a meta adicional, o grande desafio para as distribuidoras, responsáveis pela operacionalização do programa, será atender residências situadas em áreas de difícil acesso. Para se ter uma ideia, o custo médio de uma nova ligação no programa cresceu de R$ 4,3 mil, em 2004, para quase R$ 6 mil em 2010. No caso da Cemig, esse custo aumentou ainda mais, passando de R$ 3,6 mil para R$ 9 mil.
Qualidade preocupa
Também preocupa as concessionárias manter a qualidade do serviço de energia após as obras de universalização. Afinal, com a ampla extensão da rede, não é difícil ocorrer aumento dos indicadores de Duração e Frequência Equivalentes de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC e FEC) e, sobretudo, do nível de perdas de eletricidade.
A Celpa, que faz parte do grupo de empresas com as maiores metas do LPT, inverteu a trajetória de queda do índice de perdas globais em 2004, quando o programa teve início na prática. Desde então, as perdas da companhia saltaram de 21,6% para 30,3% em 2009. O mesmo ocorreu com a Cemat, do Mato Grosso, mas em ritmo menos acentuado, passando de 14,3% para 16,6%.
Algumas concessionárias, contudo, estão se saindo bem nesse quesito. A Coelba, responsável pelo maior programa de universalização do país, conseguiu diminuir seu índice de perdas globais de 14,78%, em 2004, para 12,47%, em 2010. As perdas técnicas também registraram queda, passando de 10,21% para 10,10% no mesmo período.
Uma das explicações para o sucesso da distribuidora é o aumento do volume de investimentos na rede. Sem considerar os aportes feitos no LPT, a Coelba aumentou o valor do orçamento da rede de R$ 291,8 milhões, em 2004, para R$ 573,3 milhões, em 2009. E a companhia esperava fechar 2010 com R$ 1 bilhão de investimentos em sua área de concessão.
Consumidor paga
Para que toda a engrenagem da universalização funcione na prática, o governo estima um orçamento global da ordem de R$ 20 bilhões, montante equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) de Vitória (ES) ou Recife (PE). Desse total, R$ 14,3 bilhões são desembolsados pelos próprios consumidores de energia, via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e Reserva Global de Reversão (RGR), encargos cobrados na fatura de energia. Do restante, 11% (R$ 2,3 bilhões) são desembolsados pelos governos estaduais, e 17% (R$ 3,4 bilhões), pelas próprias distribuidoras.
Prevista para ser extinta em 31 de dezembro de 2010, a RGR continuará sendo fonte de recursos para o programa, já que existe um montante acumulado de R$ 7 bilhões, financiado a juros baixos para as distribuidoras. Até o fechamento desta edição, contudo, havia rumores de que o governo reeditaria o encargo através de medida provisória, mantendo sua vigência. Se isso ocorrer, mais recursos do consumidor estarão disponíveis para o LPT.
Até dezembro passado, o governo já havia contratado no programa R$ 13,5 bilhões, via CDE e RGR. Os governos estaduais desembolsaram R$ 2,081 bilhões, e as distribuidoras, R$ 3,164 bilhões.
Sul 100% eletrificado
O Sul será a primeira região do país a atingir a universalização do serviço de energia elétrica, e já neste ano. A expectativa da paranaense Copel, a maior distribuidora da região, é declarar a conclusão do Luz para Todos em março. Restam apenas 3,7 mil ligações das 5,4 mil previstas na última etapa do programa. Até o momento, a companhia já eletrificou 70,8 mil domicílios, num total de investimentos da ordem de R$ 600 milhões.
“Vamos terminar o programa tendo atendido 76 mil consumidores, mais que o dobro dos 35 mil clientes previstos inicialmente. Fizemos uma varredura em todo o estado para encontrar os novos clientes e poderemos declarar a universalização no início do ano”, comemora o diretor de Distribuição da Copel, Vlademir Daleffe.
A catarinense Celesc também está próxima do fim do programa. Faltam apenas 1,2 mil novas ligações para a companhia atender à demanda adicional do LPT. Isso porque a meta inicial havia sido atingida em 2009, com a eletrificação de 42 mil residências. “A Celesc saiu na frente porque já pensava em eletrificação rural antes da criação do programa. A energia é fundamental para fixar o homem no campo”, ressalta o diretor de Distribuição da Celesc, Eduardo Sitônio.
No interior catarinense, o LPT teve uma configuração diferente das demais áreas do país. Como a agricultura do estado é mecanizada, a rede de atendimento precisou ser mais robusta. Em vez de instalar transformadores de 5 kVA, o que é comum no programa, a Celesc colocou equipamentos de maior capacidade, de 10 kVA e até de 15 kVA. E por conta da necessidade de qualidade de atendimento na zona rural, uma das críticas feitas por Sitônio é que os investimentos do programa deveriam contemplar também a construção de subestações.
No Rio Grande do Sul, apesar da preocupação com o nível de atendimento às novas ligações, o diretor de distribuição da CEEE, José Antônio Lopes dos Santos, diz que, por ser muito nova, a rede ainda não registra muitos problemas operacionais. Por isso, os indicadores de duração e frequência equivalentes de interrupção por consumidor (DEC e FEC) não foram afetados.
“Mas isso não deixa de ser uma preocupação futura. Além disso, serviços operacionais, como os de leituristas, passam a ser mais caros, devido às maiores distâncias”, ressalta o executivo.
A CEEE espera concluir o programa em outubro, alcançando as 29 mil ligações previstas. Até o fim do LPT, terão sido investidos R$ 196 milhões no estado, dos quais R$ 52,9 milhões por meio da CDE, R$ 93,9 milhões pela empresa, via financiamento da RGR, e R$ 49,2 milhões pelo governo gaúcho.
Rede Energia: baixa densidade de cliente
Com uma área de atendimento equivalente a 34% de todo o território nacional – numa faixa que vai do Mato Grosso do Sul ao norte do Pará – e com 4,6 milhões de clientes – número inferior ao total de consumidores no estado do Rio de Janeiro –, a Rede Energia é uma das companhias que melhor retrata a realidade do Luz para Todos: levar energia elétrica para clientes cada vez mais isolados. A meta da companhia é fazer 100 mil novas ligações em 2011.
Até outubro do ano passado, o grupo já havia ligado 478,2 mil novos clientes, beneficiando cerca de 2,5 milhões de pessoas, localizadas sobretudo em quilombos, aldeias indígenas, assentamentos e na zona rural. Foram instalados mais de 130 mil km de rede de distribuição – três vezes a rede da AES Eletropaulo –, 1 milhão de postes e cerca de 200 mil transformadores.
Segundo o coordenador do LPT da Rede Energia, Álvaro Bressan, o trabalho mais difícil é nas regiões Centro-Oeste e Norte, sobretudo no Pará, onde os períodos de chuva intensa são longos e somente 11% das estradas são asfaltadas. Para auxiliar os novos clientes, a companhia concede descontos entre 65% e 100% na conta de luz, de acordo com a classe tarifária.
Quase R$ 1 bilhão no Ceará
Os investimentos globais no Luz para Todos no Ceará chegarão perto de R$ 1 bilhão. Apenas em 2011, a expectativa é investir cerca de R$ 174 milhões na eletrificação de mais 15 mil unidades consumidoras. Do total investido, cerca de 37% são aportados pela distribuidora Coelce, e o restante pelo governo federal.
De acordo com informações da empresa, até outubro de 2010 já haviam sido feitas 152 mil ligações, beneficiando cerca de 760 mil pessoas, o equivalente a 8,5% da população do estado. A meta global do programa é atender 167 mil famílias no Ceará. Segundo a Coelce, praticamente a totalidade dos novos clientes se enquadram na classe de baixa renda, com consumo médio de 60 kWh/mês.
Nordeste dos sem-luz
O Nordeste não tem a densidade populacional rarefeita da região Norte, mas chama a atenção por ser a região que possui o maior número absoluto de brasileiros sem luz. Sozinho, o Nordeste responde por 59% dos 637,15 mil domicílios do país que ainda não recebem energia elétrica.
Apenas na Bahia, onde 2,13 milhões de pessoas já foram atendidas pelo Luz para Todos, ainda restam 150 mil unidades sem energia. Algo em torno de 600 mil brasileiros – o equivalente a quase toda a população do estado do Amapá, na região Norte.
Em Minas, consumo médio de 95 kW/mês
Responsável pelo maior programa de eletrificação da região Sudeste, a Cemig prevê realizar 40 mil novas ligações em 2011, o que demandará investimentos da ordem de R$ 555 milhões. A estatal mineira já levou energia elétrica para 242 mil domicílios, atendendo cerca de 1 milhão de mineiros. Ao fim do programa, os investimentos globais em Minas Gerais atingirão a cifra de R$ 3 bilhões.
A maioria das novas unidades consumidoras da Cemig no Luz para Todos são monofásicas ou bifásicas rurais, com consumo médio de 95 kWh/mês. De acordo com levantamento da companhia, os novos clientes utilizam aparelhos elétricos convencionais, como televisores e geladeiras e, em alguns casos, tanque de resfriamento e bombas d’água.
Contratos assinados
No fim de dezembro a Cemig assinou contratos com três grupos de construtoras para a realização de obras do Luz para Todos em Minas Gerais neste ano. Avaliados em R$ 355 milhões, os contratos preveem a realização de 25 mil ligações no modelo de pacote fechado, no qual as construtoras são responsáveis por todos os serviços da obra.
O primeiro consórcio, que ficará responsável por 9 mil ligações, é formado por Andrade Gutierrez, Orteng e Barbosa e Melo. O segundo, composto de Odebrecht, Queiroz Galvão, Camter e OAS, também fará 9 mil ligações. Já o terceiro consórcio, formado por Selt Engenharia e Remo, assumirá 7 mil ligações.
Segundo o gestor de Execução do Projeto Luz para Todos da Cemig, Elmo Pechir, estão previstas para 2011, além das 25 mil ligações dos novos contratos, mais 15 mil atendimentos que não puderam ser realizados ao longo de 2010, totalizando então 40 mil eletrificações neste ano.
Para a EDP, a hora é do Espírito Santo
Com atuação no Espírito Santo e no interior de São Paulo, a EDP também está otimista com o andamento das obras de universalização. Das suas duas distribuidoras, a Bandeirante já concluiu o programa e a Escelsa deve levar energia para as últimas residências até o fim deste ano. Ao todo, a companhia terá realizado cerca de 60 mil eletrificações no LPT.
Nos nove primeiro meses de 2010, a EDP havia contabilizado investimentos de R$ 12,3 milhões para o atendimento dos novos clientes da Bandeirante e R$ 23,7 milhões para as unidades consumidoras atendidas pela Escelsa.
Pouso suave para fabricantes
Depois do boom vivido com o Luz para Todos – de acordo com dados do governo federal, o programa já utilizou 6,7 milhões de postes, 1,230 milhão de km de fios e 1 milhão de transformadores –, os fornecedores de equipamentos elétricos esperam agora uma desaceleração por conta da queda do ritmo de novas ligações. Entretanto, a expectativa de uma nova demanda, ainda que menor, a partir do PAC 2 e o próprio crescimento vegetativo do setor animam os fabricantes.
“O fim do Luz para Todos nos preocupa, porque a demanda adicional do mercado vai terminar. Mas ela não está acabando de forma abrupta, como víamos inicialmente. Será um pouso suave. E depois do programa, as distribuidoras terão de fazer as ligações que forem solicitadas”, avalia Roberto Barbieri, assessor da área de GTD da Abinee.
Barbieri salienta que a demanda do Luz para Todos foi fundamental para alguns fornecedores durante o período mais severo da crise econômica mundial, entre o fim de 2008 e o início de 2009.
Planejamento afetado
Por outro lado, a falta de um padrão de encomendas afeta os fabricantes. Como as chuvas no Norte e no Nordeste são mais acentuadas e concentradas no início do ano, as distribuidoras dessas regiões costumam comprar equipamentos apenas no meio do ano. Isso dificulta o cumprimento do prazo de entrega. “Falta um planejamento determinativo por parte das distribuidoras”, pondera Barbieri.
Até o fechamento desta edição, o segmento de GTD da Abinee esperava faturar R$ 12,1 bilhões em 2010, incluindo também demandas fora do Luz para Todos. O montante representa uma alta de 14% em relação ao ano anterior. Para 2011, a expectativa é faturar R$ 14,4 bilhões, mantendo o percentual de crescimento de 14%.
Pouso suave para fornecedores
Depois do boom vivido com o Luz para Todos – de acordo com dados do governo federal, o programa já utilizou 6,7 milhões de postes, 1,230 milhão de km de fios e 1 milhão de transformadores –, os fornecedores de equipamentos elétricos esperam agora uma desaceleração por conta da queda do ritmo de novas ligações. Entretanto, a expectativa de uma nova demanda, ainda que menor, a partir do PAC 2 e o próprio crescimento vegetativo do setor animam os fabricantes.
“O fim do Luz para Todos nos preocupa, porque a demanda adicional do mercado vai terminar. Mas ela não está acabando de forma abrupta, como víamos inicialmente. Será um pouso suave. E depois do programa, as distribuidoras terão de fazer as ligações que forem solicitadas”, avalia Roberto Barbieri, assessor da área de GTD da Abinee.
Barbieri salienta que a demanda do Luz para Todos foi fundamental para alguns fornecedores durante o período mais severo da crise econômica mundial, entre o fim de 2008 e o início de 2009.
Planejamento afetado
Por outro lado, a falta de um padrão de encomendas afeta os fabricantes. Como as chuvas no Norte e no Nordeste são mais acentuadas e concentradas no início do ano, as distribuidoras dessas regiões costumam comprar equipamentos apenas no meio do ano. Isso dificulta o cumprimento do prazo de entrega. “Falta um planejamento determinativo por parte das distribuidoras”, pondera Barbieri.
Até o fechamento desta edição, o segmento de GTD da Abinee esperava faturar R$ 12,1 bilhões em 2010, incluindo também demandas fora do Luz para Todos. O montante representa uma alta de 14% em relação ao ano anterior. Para 2011, a expectativa é faturar R$ 14,4 bilhões, mantendo o percentual de crescimento de 14%.(Brasil Energia)
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