Preocupadas em reduzir picos e despesas com falhas na rede elétrica, companhias de energia de todo o Brasil aumentaram seus investimentos em tecnologia. Empresas como Eletropaulo e Copel desenvolveram projetos pilotos, em São Paulo e no Paraná, voltados para Smart Grid (redes inteligentes, em inglês), sistema computacional que promove integração, melhora do desempenho e automatização dos processos relacionados à energia. Consultorias especializadas no setor, como a Ecoee, acreditam que os investimentos para o novo sistema elétrico do País deverão ultrapassar R$ 4 bilhões até 2013.
Com a implantação de tecnologias em Smart Grid é possível controlar, detectar e reparar automaticamente falhas na rede elétrica. Além de medir com precisão o consumo de energia e informar ao usuário detalhes de seus gastos. Outro benefício dessa tecnologia é uma melhor aplicação das cobranças no setor elétrico, já que há a possibilidade de estabelecer uma tarifa flexível, com um preço mais atrativo fora dos horários de pico. Para que tais mudanças ocorram será preciso investir, entre outros aspectos, na área de telecomunicações, garantindo a transferência de um elevado volume de dados.
A integração para o novo sistema ainda é um processo em desenvolvimento no País e o consumidor perceberá as transformações de maneira gradual. Uma das mudanças em fase de implantação é a troca dos medidores de energia eletromecânicos, encontrados na maioria das casas hoje, pelos eletrônicos. Atualmente, existem cerca de 65 milhões de medidores no Brasil. Para substituí-los é preciso desenvolver uma plataforma de automação da rede elétrica, melhorar o sistema de telecomunicações e sensoriamento (para a detecção de falhas).
Em outubro, a Light, companhia de energia do Rio de Janeiro, e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) assinaram um acordo de parceria para desenvolver um projeto de pesquisa e desenvolvimento na área de redes inteligentes. Serão investidos R$ 65 milhões, sendo que a Light vai entrar com R$ 35 milhões. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) também auxiliará nos projetos das companhias e será responsável, no caso da Light, por tratar de soluções para o monitoramento e supervisão da rede, além do desenvolvimento dos software necessários.
Projetos pilotos de destaque
Para analisar os impactos das pesquisas realizadas com o uso da rede inteligente, a Eletropaulo criou um projeto piloto no bairro do Ipiranga. Nele, são aplicadas funcionalidades como a automação da rede, detecção de falhas, medição remota de energia por meio dos medidores eletrônicos e controle da carga elétrica (em que há a verificação se a energia fornecida é a mesma captada no medidor). “Queremos reduzir os custos, melhorar o sistema operacional e ampliar a satisfação do cliente”, diz Ricardo Van Erven, diretor de tecnologia e serviços da AES Eletropaulo. “O consumidor ainda não verá nada, já que o sistema convencional continuará instalado enquanto a rede inteligente estiver em fase de teste”.
O projeto, criado em 2009, foi dividido em várias etapas. Para a implantação do Smart Grid foi preciso integrar os sistemas, sem haver quebra de eficiência na passagem de um meio para o outro, como nas informações de um medidor para o centro de controle. Além disso, na realização do projeto houve a escolha dos serviços que seriam testados, a seleção do local (onde são feitos testes funcionais e de protótipos), e o planejamento da instalação. “Já foram feitas as análises de mercado, a integração do sistema e identificados os possíveis fornecedores de equipamentos e medidores”, afirma o diretor.
Na etapa final será monitorado o campo de teste e analisada a operação. “A escolha do campo obedeceu a requisitos técnicos, de modo a termos disponíveis o máximo de ‘diversidade’ elétrica, com sistemas de alta, baixa e média tensão”, afirma Van Erven. A companhia espera que a implantação dos medidores eletrônicos – fase final do projeto – ocorra até fevereiro de 2011, para que em março seja possível fazer análises dos resultados.
Outro projeto experimental desenvolvido no Brasil na área de Smart Grid é o realizado pela Companhia Paranaense de Energia (Copel) na cidade de Fazenda Rio Grande (Paraná). A nova plataforma tecnológica começa a ser aplicada em infra-estrutura, por meio de colocação de cabos, redes elétricas e na adaptação de sistemas de transferência de energia. Até o ano de 2013, o novo sistema colocará em teste um localizador e sinalizador de falhas na rede elétrica, medidores eletrônicos com telemedição (controle à distância) e automatização do sistema. A Copel espera atender nesse projeto 100 mil consumidores e reduzir o tempo sem energia, causado por falhas técnicas, de 8h para 3h diárias ao ano.
No Rio de Janeiro e em Minas Gerais também serão realizados projetos piloto na área energética. Aproximadamente mil clientes da área de concessão da Light que abrange 31 municípios, deverão participar, sendo que 300 clientes testarão a automatização total da rede elétrica interna, Em Minas, a implantação da nova tecnologia será feita na cidade de Sete Lagoas e contemplará aproximadamente dois mil consumidores.
Parcerias importantes
A IBM, empresa de tecnologia, é parceira de companhias de energia, como Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e AES Eletropaulo, na implantação da rede inteligente. Com a Eletropaulo auxilia na fase de medição à distância, nos testes de automação e no estudo de uma maneira eficaz de transmitir os dados do sistema. Com experiências internacionais, nos Estados Unidos e na Austrália, a empresa de tecnologia ajuda a integrar os sistemas elétricos.
O Brasil está entre os cinco locais que mais recebem investimentos da empresa em Smart Grid. “Trabalhamos para não haver mais picos de energia, analisando dados e coletando informações. A IBM escolhe os sensores mais adaptados à nova situação, os instala e transmite as informações”, afirma Gadner Vieira, executivo da IBM Brasil para soluções em utilities e energia.
Os testes realizados no Brasil possibilitam identificar quais equipamentos são mais indicados para uso da nova tecnologia. Além disso, analisam a temperatura da rede elétrica, detectam problemas e geram informações para melhorar o funcionamento das redes de distribuição de energia. “É ainda preciso entender quais medidores são indicados para cada projeto, qual software captura melhor as informações e faz com que os dados medidos nas residências cheguem até a central”, afirma Vieira. “O desafio é também não aumentar a tarifa e construir um modelo viável”.
Grandes investimentos
Além do desenvolvimento em infra-estrutura ainda será necessário aguardar uma regulamentação, prevista para este ano, para implementar o Smart Grid no Brasil. Uma das grandes modificações do novo sistema é a possibilidade de obter uma tarifa flexível de energia adaptada ao consumo. Segundo a consultoria Ecoee, os investimentos na rede inteligente devem superar R$ 4 bilhões até o ano de 2013.
Além disso, a expectativa para os próximos três anos é de que sejam investidos outros R$ 100 milhões em energia elétrica, no desenvolvimento de recursos para infra-estrutura e automatização do sistema. “No Brasil é comum pensarmos em energia por meio de grandes obras. Entretanto, elas acarretam enormes impactos ambientais e custos maiores”, afirma diz Cyro Vicente Boccuzzi, sócio-diretor da Ecoee. “É preciso incentivar também as pequenas e boas soluções”. (IG)
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