quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Geradores planejam linhão exclusivo para energia eólica

Até o fim do ano, a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) vai entregar ao governo federal um estudo pelo qual defenderá a construção de uma grande linha de transmissão na costa da região Nordeste do país. Especialistas contratados pela entidade acreditam que o projeto poderá estimular sensivelmente os investimentos na geração de energia elétrica a partir dos ventos, que começa a se tornar realidade e tem no litoral nordestino o seu maior potencial.

Nos dois leilões já realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foram comercializados pouco mais de 3,85 mil megawatts (MW) de energia eólica para entrega a partir de 2012. Desse volume, quase 90% está concentrado na faixa litorânea da região Nordeste, com destaque para os Estados do Rio Grande do Norte e Ceará, onde sopram os melhores ventos para esta finalidade.

Porém, as grandes distâncias entre os parques geradores e as linhas de transmissão que hoje atendem a região acabam elevando o custo de operação das eólicas. Isso porque, de acordo com a legislação do setor, é de responsabilidade das empresas o investimento na conexão entre os aerogeradores e as linhas de transmissão. "Esse aporte representa cerca de 10% do custo de um parque", calcula Luis Carlos Ribeiro, diretor comercial da Multiempreendimentos, empresa contratada pela entidade para a elaboração do estudo.


A previsão da ABEEólica é de que 8 mil MW de energia eólica serão contratados de usinas do Nordeste até 2015
O projeto prevê a construção de uma linha com potência de 500 kilovolts (kV) ligando São Luís (MA) a Recife (PE), em um percurso de, aproximadamente, 970 quilômetros. O trajeto seria intermediado por seis subestações, localizadas nos municípios de Barroquinha (CE), Acaraú (CE), Pecém (CE), Mossoró (RN), João Câmara (RN) e Santa Rita (PB). Se considerado um preço médio de R$ 800 mil por quilômetro, a linha custaria algo em torno de R$ 780 milhões.

Ribeiro argumenta que a presença de um linhão mais próximo dos parques eólicos possibilitaria às empresas reverterem o custo da conexão em queda nos preços da energia produzida. O executivo também acredita que o empreendimento seria um atrativo a mais para os interessados em investir futuramente no setor. A previsão da ABEEólica é de que cerca de 8 mil MW de energia eólica serão contratados de usinas do Nordeste até 2015.

Além dos fatores financeiros, a nova linha pode se mostrar necessária no que tange à capacidade de transmissão de energia na região. De acordo com fontes do setor, a infraestrutura atual está próxima do esgotamento, especialmente no Rio Grande do Norte, onde está a maior parte dos projetos licitados no leilão realizado em agosto. "A ABEEólica está tentando mostrar que o desenvolvimento de um sistema de 500 kV na área litorânea resolveria esse problema e daria uma folga para ampliações no longo prazo", explicou Ribeiro.

Uma das principais críticas do setor é o fato de que o planejamento feito pelo governo na área de transmissão é baseado no resultado de cada leilão e não no potencial de longo prazo da geração eólica. Procurada, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, alegou apenas que está tomando as medidas necessárias para atender a demanda das eólicas no que se refere ao escoamento da energia.

Ribeiro enfatiza que o projeto do linhão do Nordeste pode até ser complementar ao que o governo federal já planeja para a região. Segundo ele, o trecho entre Recife e Natal, por exemplo, já consta do plano decenal da EPE. Já a ligação entre São Luís e Pecém poderia ser viabilizada com uma adaptação ao desenho já existente para o linhão de Belo Monte, que prevê uma rota Teresina (PI) - Sobral (CE) - Pecém, porém correndo pelo interior.

"Poderiam puxar essa linha mais para o litoral, o que ajudaria a atender a muitos projetos eólicos", sugeriu o especialista. Ele lembra que, caso fosse aceita essa adaptação, o projeto encabeçado pela ABEEólica poderia ser reduzido apenas ao trecho Pecém - Mossoró - Natal. "Mas temos ciência de que tudo vai depender do custo final", contemporizou Ribeiro.

A Multiempreendimentos ainda calcula o potencial de redução do custo da energia que o novo linhão poderia proporcionar. Assim que for concluído, o estudo será apresentado à EPE, à Chesf e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A expectativa é de que o projeto seja levado a leilão. Além da ABEEólica, encabeçam o estudo as federações das indústrias de Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
(Valor Econômico)
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