Depois do primeiro passo no setor elétrico brasileiro por meio da compra de sete concessionárias de energia, a China quer agora investir nos setores de transmissão e geração, afirmou ontem em Pequim o diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson Hübner.
Do lado brasileiro, o maior interesse está na importação de tecnologia chinesa em linhas de transmissão para longas distâncias, considerada de ponta. No Brasil, as linhas chegam a 600 KV (quilovolts) em corrente contínua, enquanto a China é o único país a alcançar um padrão de 1.000 KV.
Essa tecnologia, explica Hübner, é a mais eficaz para cobrir distâncias de até 2.000 km -assim como o Brasil, vários dos importantes centros de produção de energia chineses estão longe dos principais mercados consumidores. Assim, uma linha de transmissão chinesa consegue substituir quatro linhas mais convencionais.
O potencial para uso da tecnologia chinesa está principalmente nos projetos na área amazônica, que concentra os grandes investimentos do setor. É o caso da usina Belo Monte (PA), cujo leilão para transmissão da energia deve ocorrer no ano que vem.
Por outro lado, a Aneel quer impor condições, como a transferência de tecnologia, num modelo semelhante ao adotado pela China para as multinacionais no país.
"Não nos interessa comprar uma tecnologia que só os chineses têm e ficar na mão deles. Estamos discutindo muito com eles a possibilidade de eles levarem a fabricação de equipamentos. Queremos usar com eles as mesmas políticas que eles usam com as nossas empresas", disse Hübner, em entrevista na Embaixada do Brasil em Pequim.
O diretor-geral da Aneel também vê dificuldades dos chineses para entender o modelo de concessão brasileiro e para obter informações atualizadas. Como exemplo, contou que, durante encontro ontem com o ministro da Energia chinês, Zhang Guobao, ele demonstrou interesse no leilão para a construção da usina de Belo Monte, cujo resultado já saiu seis meses atrás, em abril.
Hübner diz que, na área de geração, os chineses demonstraram interesse em investir principalmente em energia eólica e que já há conversas com a Eletrobras.
Em maio, a gigante estatal chinesa State Grid anunciou a compra de sete concessionárias no Brasil por R$ 3,1 bilhões. O negócio foi considerado um teste para conhecer o mercado brasileiro. (Folha de São Paulo)
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