quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Diretora-executiva da Abesco espera que o setor cresça 15% neste ano

O mercado de eficiência energética está amadurecendo no Brasil. Apesar disso, o setor ainda enfrenta dificuldades. Para se ter ideia, em 2009, esse segmento registrou crescimento de 23%, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), que ainda prevê alta de 15% no volume de negócios para este ano. A expansão é baseada principalmente nos projetos suspensos em 2008, por conta da crise, e que estão sendo retomados. A diretora-executiva da entidade, Maria Cecília Amaral, explica que o resultado poderia ter sido melhor caso existissem incentivos e políticas públicas mais agressivas.

Para a especialista, um dos maiores gargalos desse mercado é a falta de conhecimento das empresas com relação aos benefícios da eficiência energética. Os programas de eficiência energética, além de reduzirem custos e o consumo energético, minimizam a necessidade de novas usinas geradoras, o que ajuda a reduzir o uso dos recursos naturais e a emissão de gases poluentes.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Como está o setor de eficiência energética no País atualmente?
Eficiência energética, sem dúvida, é uma necessidade do País e do mundo e não tem volta. O mundo precisa ser mais competitivo dentro de uma economia menos impactante. Isso nos leva forçosamente ao uso responsável e eficiente dos insumos energéticos.

Quais são os maiores gargalos desse setor?
Um deles é a falta de conhecimento do mercado, daqueles que dirigem as indústrias, empresas de serviços ou os comércios. O desperdício é algo típico do brasileiro. Além disso, a energia ainda não é vista como um insumo estratégico. O desconhecimento associado a falta de divulgação de cases de sucessos levam a inexistência de fontes de financiamentos acessíveis às empresas que são provedoras de soluções de energia, que são chamadas de Escos. A Alemanha tem um mercado de 280 Escos que geram um faturamento total de até 2 bilhões de euros/ano. Isso tudo é fruto de conhecimento, financiamentos e, sobretudo, de política públicas que incentivam esse movimento.

O que pode ser feito pelo governo para fomentar a área?
Primeiramente dar o exemplo e não deixar que a lei de licitação 8666 e a forma administrativa do Estado o impeça de reduzir um desperdício de 45% no uso da energia em seus prédios. Depois, políticas de incentivo de redução de consumo nos dois setores que juntos representam perto 80% do consumo nacional, que é o industrial e o de comércio e serviços. Projetos de incentivo e sanções, associadas a facilidades tributárias fariam o mercado acordar.

O governo está planejando um plano nacional de eficiência energética. Isso pode ajudar?
Claro que sim. Existem propostas excelentes que estão contidas no plano. Sem dúvida pode levar o mercado como um todo a acordar para o tema.

Como está o mercado das Escos no País?
É um mercado que , apesar de todas as dificuldades que encontra, cresceu no último ano 23%. Ele está fazendo o caminho inverso daquele feito em outros países. Aqui ele tem ido do privado para o público, enquanto que em países mais adiantados, foi o setor público que deu o start nesse setor, que depois se expandiu para o segmento privado.

Quais são os setores com maior potencial para eficientização?
A indústria apresenta 25,7% de potencial técnico de redução e tem nos processos térmicos o seu maior vilão: perto de 80% de eficientização segundo recente estudo da Confederação Nacional da Indústria. No setor comercial e serviços, as maiores oportunidades estão em ar condicionado e iluminação podendo chegar até a 30% de redução com um payback de um a dois anos.

O que ainda impede que as empresas invistam em eficiência energética?
Um empurrão pode ser dado por políticas públicas mais arrojadas e agressivas.
(Jornal da Energia)