quinta-feira, 20 de maio de 2010

Setor de energia abriga novos empreendimentos

Enquanto a Espanha sofre especulações de que será o próximo país a não honrar seus compromissos financeiros - a exemplo da Grécia -, as empresas daquele país não perdem o apetite e programam investimentos equivalentes a R$ 2,9 bilhões na área de energia no Brasil. São novos empreendimentos em transmissão e energias eólica e hidrelétrica, além de possíveis aquisições na distribuição de energia.

A Elecnor, empresa com faturamento mundial de US$ 2 bilhões, é uma das com maior interesse. A energética programa construir cinco usinas eólicas no Rio Grande do Sul, cuja venda de energia foi vencida pela empresa no leilão de energia de reserva em dezembro de 2009. Tem em carteira ainda um conjunto de nove linhas de transmissão e sete subestações que integram o lote B das estações coletoras de energia para escoamento de energia de biomassa no Mato Grosso do Sul, leiloadas pela Aneel em 2008. O pacote todo está orçado em R$ 800 milhões, dos quais uma parte, não revelada pela empresa, corresponde ao equity.

Apesar dos planos de crescimento, a elétrica se desfez de sete ativos de transmissão que estavam em operação no Brasil em favor da chinesa State Grid, em operação avaliada em R$ 3 bilhões. Os ativos tinham parceria de outras duas espanholas - Isolux e Cobra - que também venderam suas fatias nas empresas. Cada uma tinha um terço das sociedades de propósito específico negociadas. A ideia, no entanto, não é sair do país, mas sim continuar crescendo, mas com menor dependência da matriz espanhola.

Os investimentos da empresa fazem parte da estratégia de aumentar sua atuação no mercado este ano, após uma atuação tímida em 2009. "Vamos continuar participando dos leilões (de transmissão) da Aneel, talvez com um pouco mais de agressividade. No último ano fomos mais conservadores porque já tínhamos muitos projetos em andamento", diz o diretor-executivo da Elecnor Transmissão, Francisco Chica. O leilão de transmissão deste ano terá 700 km de linhas e 11 subestações.

A Abengoa é outra empresa que tem planos ambiciosos para o país. Grande vencedora de leilões de transmissão em 2006, a empresa espanhola, que fatura anualmente € 4,1 bilhões, perdeu força no país devido à competição com as empresas do grupo Eletrobras. Mesmo assim, mantém a estratégia de participar dos pregões. Atualmente, a empresa constrói o terceiro circuito da interligação do Acre e Rondônia ao Sistema Interligado Nacional (SIN) - a LT Jauru-Porto Velho (230 kV) - e o segundo circuito da linha de transmissão Porto Velho-Rio Branco (230 kV). Em ambos os empreendimentos, orçados em R$ 700 milhões, a elétrica tem participação de 25,5%.

A Cobra Instalaciones e Servicios tem projetos que vão demandar cerca de R$ 400 milhões. A empresa está erguendo a linha de transmissão Pirapora 2-Montes Claros 2 (345 kV), a subestação Itabirito 2 (500/345 kV) e a subestação Padre Fialho (345 kV/138 kV) - em Minas Gerais - além do conjunto de seis subestações e doze linhas de transmissão vencidos no lote A do leilão de estações coletoras de energia de usinas a biomassa licitadas em 2008.

Na área de distribuição é o prometido movimento de fusões e aquisições que mexe com os executivos das empresas espanholas instaladas no Brasil. A Iberdrola, dona de 39% do capital da Neoenergia, quer participar desse movimento. Segundo o diretor-geral da companhia no Brasil, Mario Ruiz-Tagle Larraina, a área de distribuição de energia sempre será prioritária nos países que tenham uma regulação transparente, estável e previsível, como no Brasil.

A sua controlada Neoenergia também mostra ter fôlego para crescer. A companhia, dona das distribuidoras Celpe, Coelba e Cosern, tem R$ 4 bilhões em caixa e capacidade de alavancagem de até R$ 18 bilhões. O maior dos negócios em vista é a fusão com a CPFL, o que criaria uma super elétrica, que teria 21% do mercado de distribuição brasileiro e mais de 15 milhões de consumidores. A operação, contudo, vem esbarrando nas diculdades do controlador espanhol, que em 2009 passou por problemas de liquidez na Europa e, por isso, chegou a barrar algumas tentativas de expansão da Neoenergia, como a compra, em parceria com a Cemig, da transmissora Terna Participações e a própria operação com a CPFL.

A Endesa - dona das distribuidoras Ampla, no Rio de Janeiro, e Coelce, no Ceará, além da termelétrica EndesaFortaleza e da hidrelétrica Cachoeira Dourada - também reafirma seu compromisso de continuar investindo no Brasil e nega a possibilidade de venda de ativos.

A Gestamp Eólica - do grupo espanhol Corporación Gestamp - pretende aplicar € 80 milhões na construção dos parques eólicos de Cabeço Preto, no Rio Grande do Norte, e Pedra do Reino, na Bahia, com 25 MW cada. A empresa obteve um contrato de venda de energia no leilão de reserva em dezembro de 2009. (Valor Econômico)