A previsão de investimentos para geração de energia elétrica é de quase R$ 200 bilhões até 2020, sendo que a participação das fontes alternativas irá se multiplicar, crescendo 12% ao ano, mais do que o dobro da demanda prevista para os consumidores. O brilho, no entanto, desaparece quando se analisam os preços da energia elétrica consumida por indústrias.
Com mais de 80% da energia gerada por hidrelétricas, o Brasil tem um dos mais baixos custos de geração, mas uma das mais altas tarifas do mundo. Ao lado do câmbio valorizado e da alta carga tributária, as contas de luz ameaçam o futuro da indústria nacional, que representava 30% do PIB e hoje responde pela metade desse percentual.
Mais de R$ 230 bilhões deverão ser investidos em geração, distribuição e transmissão de energia elétrica nessa década, segundo a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE). Entre 2011 e 2020, a demanda de energia elétrica deve ter alta de 4,8% ao ano, enquanto a capacidade de geração irá passar de 110 mil MW para 171 mil MW em 2020. A participação das hidrelétricas cairá de 76% para 67% na matriz, mas a geração de fontes alternativas vai dobrar em dez anos, de 8% para 16%.
Os investimentos das empresas privadas têm crescido. Entre 2012 e 2016 a CPFL Energia prevê aplicar R$ 8,3 bilhões, sendo que R$ 5 bilhões serão direcionados a projetos na área de distribuição. Pouco mais de R$ 3 bilhões serão destinados à geração, com destaque para conclusão de projetos de energia eólica, biomassa e PCH. A AES Brasil prevê aplicar R$ 4,8 bilhões até 2016 em distribuição, sendo que R$ 3,3 bilhões serão investidos em projetos na Eletropaulo, que atende 6,5 milhões de clientes em São Paulo, e R$ 1,5 bilhão na AES Sul, que atende 1,2 milhão de clientes na região Sul.
"Nosso foco é investir na maior automação do sistema, aumentando a inteligência da rede", diz Britaldo Soares, presidente do grupo. Investimentos em geração também integram a estratégia de crescimento da empresa, que prevê dobrar a capacidade da AES Tietê. Há interesse em projetos de térmicas a gás e eólicas. A empresa detém um projeto de térmica a ser instalada no município de Canas, interior de São Paulo. Com capacidade de 550 MW e investimento de cerca de R$ 1 bilhão, o projeto ainda depende de obtenção de gás natural.
"A curva entre oferta e demanda está equilibrada nos próximos quatro anos, com uma sobra de energia entre 4.000 a 5.000 MW médios. E da expansão do sistema até 2020 cerca de 77% já está contratada", diz Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE. O cenário de um novo racionamento não preocupa, mas o que causa apreensão entre indústrias e comércio é o preço da energia elétrica.
Grande parte dos problemas está na estrutura de impostos e encargos. Apenas os tributos respondem hoje por 37%, em média, da tarifa de energia. Em 2001 esse número estava em 32%. A União não é a única grande arrecadadora. Na conta de luz de um consumidor da Grande São Paulo, 25% se referem a Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS).
Os Estados acabam se financiando com esse imposto. "Essa estrutura encarece os preços e acaba no bolso do industrial", diz José Luiz Alqueres, ex-presidente da Eletrobrás e da Light. Ele se recorda que, em 2008, a receita anual de ICMS da Light respondia por um mês da folha de pagamento do Estado.
A dificuldade na obtenção de licenciamento ambiental das hidrelétricas também tem impacto sobre o preço da energia elétrica. Entre 2005 e 2011 foram contratados 64 mil MW de projetos de geração, sendo que 52% de fontes hídricas e 12% de óleo combustível. "A geração térmica teve aumento de 600% de sua capacidade instalada em 15 anos, enquanto a geração hidrelétrica cresceu 30%", analisa Alquéres.
Outro exemplo das dificuldades está no segmento de gás natural. Nos Estados Unidos, começa uma corrida pela exploração de gás de xisto, o que poderá colocar o insumo a US$ 3 por milhão BTU para o consumidor. No Brasil o preço pode chegar a até US$ 19 por milhão BTU. "É essencial buscar soluções estruturais para melhorar a competitividade sob a ameaça de as empresas investirem em outros países", diz Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia. (Valor Econômico)
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