quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ajuste no grupo Eletrobras serve de exemplo a estatais

A economia de mercado envolve riscos. O que premia os empreendedores é o lucro, mas nenhum agente econômico está livre do infortúnio, ou de encontrar sérios obstáculos ao longo do caminho. No caso de setores regulados pelo Estado, as adversidades naturais de mercado se agravam quando há riscos regulatórios. Na energia elétrica, por exemplo, estes riscos não foram ainda completamente suprimidos, o que tem levado grupos privados a se associarem a companhias estatais para concretizar investimentos nos diferentes segmentos do setor, da geração à transmissão e à distribuição de eletricidade. Daí o grupo Eletrobras, estatal federal com ações negociadas em bolsa de valores, manter um papel importante na energia elétrica. Da sua solidez financeira dependerão vários investimentos relevantes em curso ou mesmo futuras parcerias.

Companhias do grupo Eletrobras detinham concessões de antigas hidrelétricas que estavam prestes a expirar. Para renová-las, o governo federal estabeleceu a condição de o preço da energia gerada nessas usinas sofrer uma substancial redução. Outros concessionários, mesmo sendo estatais estaduais, abriram mão da renovação, mas o grupo Eletrobras não teve essa opção, já que a recusa seria uma afronta a seu maior acionista, o próprio governo. Na prática, a renovação das concessões significou uma perda de receita anual da ordem de R$ 9 bilhões para o grupo como um todo. Em situação como essa, qualquer companhia privada se obrigaria a um forte ajuste. Mas de estatais sempre se espera que o Tesouro venha em socorro.

Numa feliz decisão, o grupo Eletrobras resolveu dar o bom exemplo e partiu para um ajuste antes que suas finanças se deteriorassem com rapidez. Definiu a meta de reduzir os custos em 30%. Com um programa de desligamento voluntário, o quadro de pessoal está sendo enxugado em 20%. E nesse processo, o grupo se prepara para privatizar as distribuidoras que foram federalizadas, de modo que poderá concentrar esforços nas suas principais atividades (geração e transmissão).

Assim, de uma trajetória que poderia se transformar em uma sucessão de perdas, o grupo Eletrobras tem agora como perspectiva a recuperação financeira, essencial para promover os investimentos que almeja realizar, o que é positivo para a economia brasileira, porque sem energia não há possibilidade de qualquer país ir para a frente. Fica então a lição: companhias estatais também são passíveis de ajustes sérios, ainda que isso exija sacrifícios em um primeiro momento. O corporativismo e a interferência política não podem ser empecilhos quando o ajuste se faz necessário. Espera-se que o grupo Eletrobras tenha conseguido quebrar um tabu. (O Globo / Editorial
)
Leia também;
Proteste quer adiar tarifa branca da luz
Aneel aprova regulamentação da metodologia CVaR
Eletrobras tenta estancar sangria de R$ 1,2 bi por ano
Única usina em leilão de energia enfrenta conflito fundiário e ação judicial