quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

As perdas com o modelo elétrico

O presidente do Conselho de Administração do grupo Votorantim, Carlos Ermírio de Moraes, reclamou do preço da energia em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse que, por conta da elevação desse custo, o grupo tem optado por produzir em outros países. Citou como exemplo a produção de zinco no Peru e de alumínio em Trinidad Tobago.

De agosto de 2003 a agosto de 2009 a tarifa de energia cobrada da indústria aumentou de R$ 140,39 por MWh (megawatt-hora) para R$ 236,11, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O reajuste foi de 68%, ante uma inflação acumulada de 36%.

“A oferta de energia não é problema. O problema são os custos”, disse o executivo, ao sair da reunião com Lula. Segundo Ermírio de Moraes, a mudança do perfil da matriz energética brasileira tem causado preocupação, devido ao aumento da participação de fontes mais caras, como as termelétricas a gás natural.

Na avaliação da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o país está perdendo competitividade no mercado internacional. “Está havendo uma erosão da competitividade por um aumento totalmente injustificado da energia”, disse Eduardo Carlos Spalding, membro do comitê de infraestrutura da entidade.

Segundo Spalding, a tarifa subiu, em dólar, 21,6% entre 2002 e 2007. Ele avalia que os encargos embutidos na tarifa (que sustentam subsídios, como a tarifa de baixa renda) contribuem para esse aumento.

O governo tem tido dificuldade em licitar hidrelétricas, devido à falta de projetos e ao complicado processo de licenciamento ambiental das obras. Por isso, termelétricas a óleo, carvão ou gás têm gerado mais energia. A participação da fonte hidrelétrica (mais barata e menos poluente) deverá cair de 79,6% para 71% até 2017, segundo estudos do governo.

Mercado livre
De acordo com Roberto Pereira D’Araújo, pesquisador da Coppe/UFRJ, as tarifas de energia têm subido muito para todos os tipos de consumidores por conta do modelo adotado durante a privatização do setor. Ele ressalta, no entanto, que a indústria tem uma vantagem ante o consumidor residencial: pode comprar energia barata no mercado livre. “Por conta das chuvas, os preços no mercado livre têm estado muito baixos. A parte da indústria que fica no mercado cativo, no entanto, está pagando caro.”

No mercado cativo, o consumidor é atendido por distribuidoras de energia e não pode mudar de fornecedor. No livre, do qual só podem participar grandes consumidores, a indústria pode comprar diretamente das geradoras, a preço menor (ontem, a cotação do MWh estava em R$ 12,80).

Investimentos
Carlos Ermírio de Moraes informou ao presidente que que o plano de investimento 2007-2012 da empresa está praticamente cumprido: dos R$ 26 bilhões previstos, R$ 20 bilhões já foram investidos. Nos próximos dois anos, afirmou, serão aplicados mais R$ 10 bilhões.

Em 2009, o Banco do Brasil comprou o banco Votorantim. O grupo, que perdeu R$ 2,2 bilhões com operações financeiras, teve ajuda do BNDES para comprar a Aracruz.
[Folha de S. Paulo]