O primeiro leilão de energia de reserva em que a fonte fotovoltaica entrou no pleito sem disputar a venda com fontes mais competitivas foi um dos mais concorridos dos últimos anos. Depois de oito horas de ofertas, foram contratados pelo governo 1.048 megawatts (MW) de energia solar por R$ 215,12 por megawatt-hora (MWh), um deságio de 17,8% sobre o preço-teto de R$ 262,00. O mercado espera a venda de 500 MW. Há dúvidas, porém, quanto à viabilidade dos projetos ao preço ofertado no leilão. Os 31 empreendimentos de 11 vendedores que saíram vencedores no leilão de energia solar precisam iniciar a entrega da energia a partir de 2017.
A energia de reserva é destinada a aumentar a segurança no fornecimento de eletricidade ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), classificou o resultado como um sucesso. "Esta sexta rodada de energia de reserva é um marco no setor elétrico brasileiro porque foi o mais competitivo da história desde o início dos processos de leilões de energia no Brasil. Além disso, marca a entrada da fonte solar na matriz elétrica brasileira de forma consistente", afirmou. O presidente da EPE disse ainda que o governo contratou a energia solar com um dos menores preços do mundo. "Fazer contratos abaixo de US$ 90 o megawatt coloca o Brasil realmente como uma das fronteiras da energia solar no mundo", afirmou.
Para o sócio do setor regulatório da Siqueira Castro Advogados, Fernando Villela de Andrade Vianna, as fontes alternativas vêm recebendo, de forma paulatina, a atenção do governo federal e, consequentemente, despertado interesse dos investidores. "O projeto piloto foi a energia eólica, que teve seu divisor de águas em 2009. Tratava-se d energia cara à época e já se pode ver a competitividade dessa fonte hoje em dia", disse. Vendido a R$ 142,34/MWh, com deságio de1,4% sobre o preço teto de R$144,00 a energia eólica conseguiu negociar 769,1 MW, também em31 projetos.Vianna concorda que o preço corrente da energia solar negociado na sexta-feira foi surpreendente. O mercado esperava um preço mínimo de R$ 250 por MWH. "Isso é, também, uma sinalização do mercado com relação ao apetite do investidor com novas fontes". comentou.
Já o diretor da Brasil Solar, fabricante de painéis, Nelson Cortes da Silveira, afirmou que é impossível ter projetos com preço tão baixo. "Quem deu o preço terá de fazer mágica para entregar os projetos", afirmou. Ele lembra que existe um complicador que é o câmbio, que pode tornar os projetos mais caros do que as projeções atuais, já que a maior parte dos insumos é importada. "A não ser que tenham outros projetos de geração que materializem um investimento menor, não consigo ver como esses projetos podem avançar com esse preço".
Leilão pode ampliar oferta de equipamentos
Para o advogado da Siqueira Castro, a matriz renovável se torna cada vez mais atrativa devido ao uso múltiplo e em várias escalas. Como exemplo ele cita que, em2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulou no Brasil o sistemanet metering (Sistema de Compensação de Energia Elétrica). "Esse sistema é muito promissor para energia renovável, especialmente a fotovoltaica, em razão da possibilidade de se instalar placas em prédios públicos e privados, em empreendimentos como aeroportos, escolas e estádios. Em Minas Gerais, por exemplo, o estádio Mineirão já conta com esses painéis na cobertura.
Esse modelo, em conjunto com os leilões de energia, propicia um mercado promissor e atrativo para novos investimentos", afirmou Vianna. Ele reconhece, entretanto, que a oferta no Brasil ainda é muito pequena, o que dificulta financiamentos, por exemplo. Ele acredita que o cenário irá mudar coma sinalização dada pelo governo federal de que essa fonte será objeto de novos leilões. Paralelamente, diz Vianna, com a expansão do uso donet metering, o mercado passará a investir mais e isso estimulará a produção nacional em equipamentos.
A nacionalização, aliás, é uma das exigências do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os financiamentos dos empreendimentos ligados à geração de energia. No cenário atual, com problemas de estiagem e abastecimento de água, essas outras fontes energéticas podem ajudar a diminuir o risco de racionamento de energia no futuro. "O fato de o governo ter prestigiado a energia solar neste momento é um reconhecimento disso. Quanto maior a diversificação da matriz, menor a nossa exposição", disse Vianna. Já o presidente da EPE lembra que o Brasil continuará sendo, pelo menos por algum tempo, dependente das Hidrelétricas. "Essas fontes são complementares", afirmou Tolmasquim.
Depois de oito horas de ofertas, foram contratados pelo governo 1.048 MW de energia solar por R$ 215,12 por MWh, um deságio de 17,8% sobre o preço-teto de R$ 262,00. (Brasil Econômico)
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