quarta-feira, 28 de maio de 2014

Setor elétrico brasileiro passa por ‘prova de fogo’, diz Lobão

O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, tranquilizou novamente empresários sobre o risco de racionamento no país. Reunido ontem à tarde com representantes do setor privado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Lobão disse que o sistema interligado brasileiro é eficaz o suficiente para assegurar o abastecimento. Lobão admitiu que os reservatórios das hidrelétricas da Região Sudeste registraram no início do ano a pior seca dos últimos 80 anos e que o setor elétrico vive a sua "prova de fogo". Na opinião de analistas, a situação hídrica desfavorável apenas evidenciou problemas estruturais do setor, reforçando que a situação energética tornou-se um desafio ao desenvolvimento do país. A questão está entre os temas que serão debatidos na próxima quarta-feira, 4 de junho, durante o Fórum de Infraestrutura promovido pelo Brasil Econômico no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília. "Esse quadro foi suficiente para que alguns especialistas passassem a anunciar o caos no setor elétrico.

Se apressaram em anunciar que, assim como em 2001, haveria racionamento de energia em todo o país,mas felizmente isso não aconteceu e não acontecerá. E com a graça de Deus, mesmo em um futuro distante, não ocorrerá", disse Lobão aos empresários, ontem, na CNI. Os encontros de integrantes do governo como empresariado vêm sendo recorrentes depois que a falta de chuvas reduziu a capacidade de geração hidrelétrica e tornou necessário o acionamento das termelétricas, o que encareceu ainda mais o preço da energia para as distribuidoras. Reunida com representantes de 37 setores da economia no Palácio do Planalto, na semana passada, a presidente Dilma Rousseff foi questionada e também precisou reforçar que não será necessário o racionamento.

Até mesmo em reuniões com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tratar de questões tributárias, o receio dos empresários em relação à questão energética vem à tona. Para o diretor-presidente da Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica (ABCE) e presidente do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, Alexei Vivan, o setor se ressente do afastamento entre o poder público e os agentes do mercado. "Precisa haver uma maior interlocução entre o governo e os empresários. Precisamos de um ambiente de estabilidade de regras nos contratos. Isso não quer dizer que as regras não possam mudar. Elas podem, mas as alterações precisam ser negociadas", defendeu.

Vivan classifica o momento como "bastante crítico" para o setor elétrico. "Existe uma questão conjuntural, que é a falta de chuvas, mas existem também questões estruturais. Nos últimos anos, deixamos de investir em geração hidrelétrica por problemas de licenciamento ambiental. Isso não pode ser visto como problema do Ibama, é um problema de governo", apontou. Maugham Basso, gerente de negócios da CP+, concorda com ele: "Os governos precisam reforçar a estrutura dos órgãos ambientais federais e estaduais e investir nos seus recursos humanos. Os técnicos do setor público hoje ganham a metade do que recebemos da iniciativa privada."

Roberta Bassegio, sócia do Veirano Advogados, chama a atenção para o atraso nas obras ligadas à infraestrutura energética. "Só não estamos vivendo uma situação pior porque o crescimento da demanda no país ficou abaixo do esperado. Se o país tivesse crescido como o governo esperava, como atraso na execução das obras de geração e de transmissão, estaríamos vivendo uma situação bem mais precária", afirmou. Na opinião do professor Edmar de Almeida, que integra o Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ, a energia deixou de ser um fator favorável à competitividade da indústria brasileira. "Como controle de tarifas que o governo vem fazendo, o tiro está saindo pela culatra e a indústria está pagando caríssimo pela energia." (Brasil Econômico)
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