segunda-feira, 12 de maio de 2014

Linhas de transmissão importantes saem do papel

O governo conseguiu leiloar, na sexta-feira, oito lotes de linhas de transmissão importantes para o sistema elétrico nacional, apesar de não ter havido interesse para cinco lotes ofertados. No entanto, a participação de grupos privados, entre eles as espanholas Elecnor e Abengoa, a brasileira Alupar, além de uma presença relevante da Copel e Cymi Holdings, foi considerado um sinal positivo, dada a predominância da Eletrobras nos leilões anteriores.

Neste certame, ao contrário, a estatal federal brasileira quase não apareceu, nem a chinesa State Grid, que venceu em fevereiro a licitação para construir o "linhão" de Belo Monte.

Os oito empreendimentos licitados vão consumir R$ 3,5 bilhões em investimentos, ou grande parte dos R$ 4,3 bilhões previstos para todos os 13 lotes.

O deságio médio foi de 13%, mas o resultado foi distorcido pelos dois únicos lotes que tiveram descontos agressivos, acima de 23%. Ambos foram dados pela Cymi para linhas de transmissão no Nordeste, incluindo empreendimentos que vão escoar a geração do polo eólico de João Câmara, no Rio Grande de Norte e Ceará.

Outro empreendimento leiloado vai permitir a travessia do rio Amazonas, por meio de duas linhas de transmissão, de 230 km cada uma. Esse era o lote com a maior receita anual permitida (RAP), de R$ 102,161 milhões, e foi disputado pela Abengoa e Eletronorte (grupo Eletrobras), que chegaram a travar um embate em viva-voz. A espanhola venceu com um deságio de 9,4%. As linhas vão interligar os municípios de Oriximiná a Almeirim, Juruti e Parintins, cidades onde a geração de eletricidade é feita ainda por caras térmicas a diesel e não estão conectadas à rede elétrica nacional.

A Abengoa também arrematou uma linha de transmissão em Parauapebas no Pará, na Serra do Carajás, maior polo de exportação de minério de ferro.

Outro empreendimento que chamou a atenção no leilão foi o Lote F. As duas linhas de transmissão, de 328 km cada uma, vão reforçar o escoamento do linhão de Belo Monte, licitado em fevereiro, trazendo a energia do município de Estreito, em Minas Gerais, para Fernão Dias, em São Paulo. O empreendimento, porém, só atraiu um interessado, o consórcio Cantareira, formado pela espanhola Elecnor com a Copel, que possuem participações de 51% e 49%, respectivamente. O consórcio venceu sem oferecer deságio sobre a RAP máxima, de R$ 76,9 milhões, e terá 42 meses para concluir a obra.

A vitória foi comemorada. "Vencer o leilão foi uma satisfação tremenda", disse Francisco Chica Padilla, diretor executivo da Elecnor. Segundo ele, o Brasil transformou-se no principal mercado para o grupo e o empreendimento consolida a parceria com a Copel. Segundo o diretor da Copel, Jonel Nazareno Iurk, o investimento em transmissão faz parte de uma estratégia de expansão acelerada da companhia, que quer dobrar de tamanho em oito anos.

A estatal paranaense arrematou mais dois lotes menores, de 53 km e 120 km, no Paraná e em São Paulo. O último deles, afirma o representante da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ivo Nazareno, é uma obra importante para a expansão do intercâmbio de energiaentre as regiões Sul e Sudeste, que se tornou ainda mais relevante com atual crise energética.(Valor Econômico)
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