terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Nível é pior que em 2001, admite presidente da EPE

As chuvas que caíram no fim de semana não foram suficientes para reverter a redução do nível dos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o principal do país, que recuou mais 0,1 ponto percentual entre sábado e domingo, quando ficou no patamar de 35,5% de estoque. Neste mês, as usinas das duas regiões - responsáveis por 70% da capacidade de armazenamento do país - acumulam queda de 4,8 pontos percentuais. Ontem, pela primeira vez, Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) admitiu que o cenário hidrológico é pior que em 2001, quando houve racionamento.

"Talvez, agora, em termos de hidrologia, [o cenário] seja um pouquinho pior que em 2001", afirmou Tolmasquim. Ele, porém, reafirmou que não há necessidade de racionamento. "Estruturalmente temos uma situação melhor para enfrentar essa situação conjuntural, que é um problema extremo."

Para o presidente da comercializadora e gestora América Energia, Andrew Frank Storfer, outros países nessa situação já teriam tomado medidas cautelares. Segundo ele, o governo está adiando qualquer decisão para evitar influencias negativas no cenário político. Storfer ressalta que uma decisão sobre o tema só deverá ser tomada no fim de março, quando acaba o período de chuvas. "[O governo] está apostando que a chuva virá e melhorará a situação dos reservatórios".

O presidente da comercializadora de energia Comerc, Cristopher Alexander Vlavianos, também avalia que o governo já deveria estar tomando medidas para desestimular o consumo. Estudo realizado pela empresa indica que, se os próximos meses seguirem a exemplo de janeiro, o Brasil terá que entrar em um programa de contenção do uso de energia entre agosto e setembro.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em seu último relatório semanal, reviu, de 35,6% para 34,2%, a previsão de acumulação das usinas do Sudeste/Centro-Oeste no fim de fevereiro. A previsão inicial do operador era de 41,5% de estoque.

Ainda assim, o governo considera que a situação está sob controle. Para Tolmasquim, em 99% dos cenários analisados, há oferta maior que a demanda. "Existe 95% de probabilidade, com essa capacidade instalada que temos hoje, de ter um excedente de 6 mil megawatts médios", disse. Os 6 mil MW médios equivalem a 8,5% do consumo atual.

Ele disse que os números mudam em função da variação hidrológica, podendo melhorar ou piorar nas próximas semanas. "É claro que sempre pode ter um cenário hidrológico que faça com que a hidrelétrica não gere o que se espera", afirmou, frisando que a probabilidade é "baixíssima". (Valor Econômico)
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