quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Uso de cogeração cresce como alternativa a riscos e alto custo do setor energético

RIO - O alto custo da energia elétrica no país tem feito cada vez mais empresas buscarem alternativas para gerar energia mais barata. E, na busca por eficiência, os sistemas de cogeração de eletricidade a partir do gás natural e em usinas que usam resíduos sólidos vêm ganhando destaque, ao lado da criação de pequenas centrais hidrelétricas. A redução do custo de energia chega a 50% com essas iniciativas.

Pesquisa recente feita pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) constatou que a tarifa média de energia no Brasil é 50% maior que a média de um conjunto de 27 países, que fornecem seus dados para a Agência Internacional de Energia. Em relação a Rússia, Índia e China, que compõem o grupo conhecido como BRIC, o custo no Brasil é 134% maior que a média dessas três nações.

Osório de Brito, superintendente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia do Rio, diz que o aumento das iniciativas das empresas no estado está associada também à vulnerabilidade maior do sistema elétrico.

- O sistema elétrico fica dependente do ritmo de chuvas. Além disso, o gás é mais barato que a energia elétrica, gerando um benefício para as empresas. O futuro é a geração distribuída. Ou seja, essas empresas poderão jogar no sistema elétrico a energia que não consumirem em seu processo produtivo - destaca Brito.

Na área de concessão da Light, o número de frequência dos apagões no Rio subiu de 7,76 vezes em 2011 para 8,39 vezes em 2012, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Já a duração dessas interrupções aumentou de 16,73 horas, em 2011, para 18,15 horas, em 2012.

A concessionária está concentrando esforços na construção de térmicas a gás natural, diz Evandro Vasconcelos, diretor de Energia da companhia. Na fábrica da Coca-Cola, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, por exemplo, a concessionária construiu uma pequena usina: em vez da energia da rede da Light, a empresa vai consumir, a partir de dezembro, o que é gerado na térmica e ainda usar o calor e os gases residuais produzidos no processo.

Aproveitamento de resíduos sólidos
O investimento da concessionária foi de R$ 85 milhões, que serão pagos em 15 anos pela Coca-Cola.

- A Coca consegue comprar da Light esse calor e esses gases derivados, que são residuais, usando isso em seus processos de conservação das bebidas. Nós temos esse ganho financeiro, e eles compram esses produtos, que são mais baratos por serem resíduos. Todos ganham. Uma fábrica como a da Coca consome dez milhões de quilowatts/hora por mês. Para se ter uma ideia, uma casa tem consumo de 300 quilowatts/hora por mês. Esse excedente é disponibilizado para a sociedade - diz Vasconcelos.

A Light já estuda levar a iniciativa para outras indústrias do estado:
- Só o verão eleva o consumo em 5%. Isso significa 200 megawatts de capacidade instalada. É uma usina, que tem de estar disponível o ano inteiro só para atender aos dias mais quentes. O Rio tem papel fundamental na busca por uma matriz energética mais limpa para o Brasil, ainda mais que o petróleo está no Rio de Janeiro - afirma Evandro.

Rodrigo Klee, diretor de Operações da Coca-Cola Andina Brasil, lembra que os benefícios financeiros do projeto não e ficam só na redução da conta de energia, mas também na diminuição dos custos das outras fontes, como o uso do vapor e a compra de outros gases residuais, como o gás carbônico e nitrogênio.

- A aplicação nesse tipo de cogeração é considerada nobre para o gás natural, uma vez que o aproveitamento simultâneo de energia elétrica e energia térmica resulta em uma alta eficiência, da ordem de 85% - lembra Klee.

Diferentes shopping centers do Rio também vêm fazendo parcerias semelhantes para cogeração. O Nova América, em Del Castilho, na Zona Norte, é um deles, com investimento de R$ 12 milhões em uma pequena térmica a gás para gerar energia elétrica e frio.

- Por questões de custo de energia, essa vem sendo uma boa alternativa. Há ainda um ganho em sustentabilidade, pois utilizamos combustível limpo, sem resíduos para o meio ambiente. Nossa planta possui dois motogeradores a gás natural para a produção de energia elétrica. Os resíduos originados pela queima desse gás nos motogeradores são reutilizados, produzindo o frio para o ar-condicionado - explica Erasmo Nascimento, gerente de Operações do Nova América, do grupo Ancar Ivanhoe.

Furnas, Firjan e a RGT Comercial, uma empresa de importação e exportação, vão desenvolver uma nova tecnologia que vai tratar resíduos sólidos não recicláveis para a geração de energia.

Club Med tem central hidrelétrica
A Light também está estudando com a Haztec, concessionária que armazena o lixo no Rio, a construção de uma térmica que vai gerar energia a partir do lixo. A usina deverá ficar no Caju, na zona portuária da cidade.

- Vamos queimar o lixo e gerar energia - afirma Vasconcelos, da Light.

Em Angra dos Reis, o ClubMed Rio das Pedras, um dos únicos do mundo do grupo francês com o conceito sustentável, construiu uma pequena central hidrelétrica (PCH), que gera cerca de 15% da energia do empreendimento, por meio da queda de água de uma cachoeira numa reserva ecológica junto ao resort. Com isso, houve redução de 50% no consumo de energia. Além disso, a piscina do local é aquecida por placas solares instaladas no telhado.
- O desenvolvimento sustentável é o futuro de qualquer companhia - diz o presidente do Club Med no Brasil, Janyck Daudet. (Globo)
Leia também:
EPE quer R$ 17,9 bi em investimentos na transmissão
Aneel vai regulamentar investimento em hidrelétricas com concessão renovada
Renovação das concessões de distribuidoras não tem urgência, diz Zimmermann