Quase metade das novas usinas termelétricas previstas para 2012 não entrou em operação, aponta levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No total, 27 das 57 usinas desse tipo que deveriam estar disponíveis para começar a gerar energia no ano passado não conseguiram cumprir o cronograma. Com o atraso das 27 usinas, o país deixou de contar com até 3.154,17 megawatts (MW) de energia térmica nova justamente quando os reservatórios das hidrelétricas do país atingiram, no fim de 2012, o menor nível dos últimos dez anos - no início de janeiro de 2013, os índices de armazenamento foram semelhantes ao do período pré-racionamento de energia (2001).
Esses 3.154,17 MW equivalem a 65,4% do total da capacidade de geração das 57 termelétricas programadas para entrar em operação em 2012. As outras 30 usinas que começaram a funcionar no ano passado têm potência somada de 1.670,08 MW. O fato de uma usina térmica estar pronta para funcionar não significa que ela vai gerar energia, já que no Brasil esse tipo de empreendimento normalmente só é acionado quando os lagos das hidrelétricas estão baixos. Entretanto, pelo menos entre outubro e dezembro de 2012, o país foi obrigado a despachar todas as termelétricas disponíveis para dar conta da demanda por energia e ajudar a encher os reservatórios.
Mudança em leilões - O G1 procurou o Ministério de Minas e Energia e questionou o impacto do atraso dessas obras para a garantia do fornecimento de energia no Brasil, principalmente em um cenário de queda nos reservatórios das hidrelétricas. Até a publicação desta reportagem, porém, não obteve resposta. O diretor-geral da Aneel, Nelson Hübner, admite que os atrasos, que já haviam acontecido em 2011, geram preocupação. "Claro que preocupa. A gente não quer atraso nenhum. Queremos que tudo entre na data certa", disse ele.
Segundo Hübner, boa parte das térmicas que atrasaram a operação são movidas a carvão, contratadas em leilão chamado A-5, e que deveriam começar a gerar a energia depois de cinco anos mas, na verdade, acabaram contando com prazo inferior e insuficiente. Isso acontece porque o governo costuma adiar esse tipo de leilão para tentar garantir o máximo de participação de usinas hidrelétricas, que têm energia mais barata. Entretanto, o prazo para a entrega da energia não muda com os adiamentos, e as usinas acabam tendo menos tempo para concluir as obras.
Segundo Hübner, o governo estuda antecipar os leilões de contratação de energia, ou mesmo dividí-los ao longo do ano, para evitar que esses atrasos aconteçam. Ele apontou ainda que a Aneel revogou no ano passado a autorização de seis termelétricas, ligadas ao grupo Bertin, por atrasos nas obras.
Térmicas ganham importância - De acordo com a Aneel, o Brasil tem hoje 1.623 usinas térmicas, movidas a combustíveis como óleo, gás natural e biomassa, com potência somada de 35,5 mil MW - valor que equivale a 27,5% do total da energia gerada no país (121,7 mil MW). Os atrasos nesses empreendimentos causam preocupação adicional, já que a tendência, segundo representantes do próprio governo, é que nos próximos anos o Brasil passe a utilizar - e a depender - cada vez mais energia térmica. Isso acontece por conta da decisão do governo de optar por empreendimentos no setor que gerem menos impacto ambiental, como no caso das usinas a fio d´água (sem reservatório) e de energia eólica. Se faltar chuva ou vento, essas usinas param de funcionar. As usinas térmicas entram justamente para garantir o fornecimento de energia nessas situações. (Portal G1)
O governo considera aumentar a licitação de novas usinas termelétricas a gás natural além dos 1500 megawatts (MW) previstos até 2017, mas a mudança no planejamento dependerá da disponibilidade do combustível. "A nossa intenção é talvez aumentar a contratação de térmica a gás. O setor elétrico está muito ansioso com a rodada de gás não convencional", disse o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. O executivo se referiu à rodada de licitações de blocos de recursos não convencionais, como o gás de xisto, cuja expectativa de realização é em dezembro. Nos últimos leilões de energia nova no país, a participação de térmicas tem sido limitada a projetos de empreendedores que possuem gás próprio, como a MPX, empresa de energia do do empresário Eike Batista. De acordo com Tolmasquim, a disponibilidade de gás competitivo para as térmicas continua a ser avaliada com a Petrobras.Questionado se o governo considera voltar a licitar térmicas a carvão, ele disse que a prioridade são as térmicas a gás. Segundo o presidente da EPE, o carvão pode ser considerado "se houver um problema em que o gás se torne muito caro",tendo só GNL disponível e sem descoberta de gás não convencional. Até 2017, o governo pretende licitar 33 mil MW de nova capacidade geradora, considerando todas as fontes, com investimentos totais estimados em R$ 121 bilhões. (Reuters)
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