segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fazem falta hidrelétricas com reservatórios

Nas próximas semanas o governo espera anunciar algumas medidas para reduzir o preço da energia elétrica pago pelos usuários, especialmente os industriais. O peso dos encargos e dos tributos eleva de maneira expressiva este custo para os usuários, chegando em diversos casos a inviabilizar a produção. Se considerada apenas a geração da energia, o custo da eletricidade no Brasil permanece competitivo, pois o modelo que o país passou a adotar, estimulando a concorrência, atraiu para o setor muitos investidores. Quem oferece os preços mais baixos pela energia a ser gerada é escolhido em leilões periódicos para executar projetos de novas hidrelétricas, usinas de fontes renováveis ou centrais térmicas.

Por este critério, as hidrelétricas sempre apresentam vantagens competitivas, seguidas das usinas eólicas. No entanto, não havendo oferta suficiente por parte dessas fontes renováveis, a demanda precisará ser atendida por fontes não renováveis, até mais caras e geralmente bem mais poluentes. Assim, para que a matriz energética brasileira se mantenha a mais limpa possível, o ideal é que o país ainda tente ampliar sua capacidade de geração de eletricidade aproveitando seu grande potencial hidráulico.

Porém, a fim de reduzir o impacto ambiental desses aproveitamentos, as novas hidrelétricas têm sido licenciadas sem considerar a formação de reservatórios. Ou seja, as novas usinas não armazenam água para anos vindouros e funcionam usando a vazão natural dos rios. Por isso, são chamadas de usinas a "fio d"água". Sem a possibilidade de armazenar água, o bom funcionamento das hidrelétricas passou a depender de um regime favorável de chuvas.

Como o Brasil tem um sistema elétrico interligado, o operador nacional responsável pelo seu gerenciamento procura compensar essa variação transferindo energia de uma região para outra, por meio de longas linhas de transmissão. Mas há um limite físico para tal transferência. Dessa forma, o país também investe em centrais térmicas para criar uma "reserva" de energia.

Para efeito de se minimizar o impacto ambiental, o fato de as novas usinas hidrelétricas não terem mais reservatórios é nulo ou até negativo, pois tal ausência terá de ser compensada por centrais térmicas que, ao serem acionadas, queimarão gás natural, diesel, óleo combustível ou carvão. As térmicas previstas para até 2020 triplicarão as emissões de CO2 pelo setor.

De maneira criteriosa, o Brasil deveria rever essa restrição aos reservatórios. Em locais onde a formação dos lagos exigiria a remoção de grande número de moradores ou o alagamento de terras férteis, com variedade de espécies animais e vegetais, o reservatório pode não fazer sentido. Mas em outros, com baixa densidade demográfica e que passam boa parte do ano alagados naturalmente pelas cheias dos rios, o reservatório é uma opção a ser considerada. (O Globo)

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