terça-feira, 16 de agosto de 2011

Para EPE, preferência por fonte de energia prejudica competitividade

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, disse ontem que não vê razão para garantir cotas para o financiamento de certas fontes de produção para os leilões de compra de energia elétrica de novos empreendimentos (A-3) e de contratação de energia de reserva (leilão de reserva), que serão realizados nos dias 17 e 18. Ele rebateu críticas de alguns empresários, que reclamam da permissão para que todas as fontes (hídrica, eólica, biomassa e gás natural) participem do leilão A-3.

"Todo mundo está reclamando porque ninguém quer competição", disse no painel "Matriz Energética e Competitividade", no 12º Encontro Internacional de Energia, em São Paulo. A EPE habilitou 321 empreendimentos para os leilões. Juntos, somam capacidade instalada de 14.083 megawatts.
"Quando você não tem nenhuma preferência por fonte, o mais razoável para o consumidor é que seja a fonte mais barata. Sem nenhuma razão específica, acho melhor que haja competição entre todas as fontes e deixo o preço revelar quem é mais competitivo", disse Tolmasquim, em resposta a uma pergunta da plateia.

Segundo ele, o fato de todas as fontes estarem participando do leilão de curto prazo não significa que nos próximos não possa haver a criação de cotas. "É lógico que quando isso acontecer a reclamação vai ser de que a cota de uma fonte foi maior que a da outra. Ai vai mudar a discussão: por que diacho o governo não deixa todas as fontes competirem entre si livremente? Por que o governo vai intervir no mercado?"

Durante sua apresentação, na qual apontou as perspectivas da EPE para a matriz energética brasileira até 2020, Tolmasquim citou que havia 582 projetos cadastrados para participar do A-3, e que, após análise da estatal, coincidentemente, foram mantidas as mesmas proporções de tipos de fontes inicialmente interessadas. "Foram eliminadas proporcionalmente empreendimentos de cada fonte, não houve fonte mais habilitada."

As usinas eólicas puxam a fila das habilitações, com 240 parques autorizados a participar dos leilões, totalizando 6.052 MW. A seguir estão as termelétricas à biomassa, com 43 empreendimentos e 2.750 MW de potência, as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), com 27 projetos e 443 MW, as termelétricas a gás natural, com dez unidades habilitadas e 4.388 MW, e as hidrelétricas, com um projeto, para ampliar Jirau, com 450 MW.

Sobre a polêmica em torno da participação da Petrobras no leilão, tendo em vista que a estatal é detentora do gás natural - concorrentes alegam que ela poderia ter vantagem em relação a outros participantes -, Tomalsquim disse que não vê problemas, nos termos das regras do leilão.

Segundo o presidente da EPE, se o Brasil crescer a uma taxa de 5% ao ano será preciso instalar mais 61 mil megawatts na matriz energética brasileira, que atualmente conta com 115 mil MW. "Olhando assim, parece um baita desafio, mas não é tanto, porque desses 61 mil, 42 mil foram contratados e já estão em construção ou em vias de se iniciar", explicou. "O que não está equacionado são esses outros 19 mil megawatts, para os quais apontamos como prioridade fontes hidráulicas e alternativas", disse Tomalsquim, para quem o Brasil já é e continuará sendo exemplo mundial de matriz energética. "Se no mundo menos de 13% das fontes de energia são renováveis, no Brasil esse percentual é de 45% e deve se manter estável até 2020."

Tomalsquim disse que é preciso cuidado em se comparar o custo da energia industrial de outros países com o do Brasil em um cenário de câmbio valorizado. "Tenho visto se multiplicarem estudos por aí que convertem tudo para dólar e comparam: "Olha, o Brasil é muito mais caro do que o outro. Quando há um real sobrevalorizado em 30%, no mínimo é preciso ter escrúpulo na conversão." (Valor Econômico)
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