No próximo leilão A-3 e de reserva, que ocorre nesta semana, o deságio médio não deverá alcançar o mesmo patamar dos leilões anteriores devido à inclusão de projetos termoelétricos movidos a gás natural. Nos últimos dois anos, o deságio ficou em 21,49% e em 19,7%, respectivamente.
A expectativa por este desconto menor ocorre porque os responsáveis pelo planejamento do setor elétrico brasileiro colocaram na mesma disputa duas fontes de geração de eletricidade que possuem diferentes formas de precificação, o que deve afetar a competitividade no certame dos dias 17 e 18 de agosto.
De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estão habilitados 321 projetos para os leilões A-3 (cuja entrega de energia deve ocorrer em 2014) e para o de energia de reserva. Somados eles respondem por mais de 14 mil MW de capacidade instalada (o equivalente a uma usina de Itaipu). Desse volume, as maiores fontes são a eólica (6,052 mil MW) e a térmica a gás natural (4,388 mil MW).
O problema de colocar na mesma competição duas fontes distintas está no fluxo financeiro: a eólica é mais intensiva de capital no início do projeto, enquanto o maior custo da térmica está na aquisição do combustível. Além disso, o presidente da subsidiária brasileira da indiana Suzlon, Arthur Lavieri, lembra que há um agravante: o aumento de preço dos insumos para fabricar os equipamentos.
"Em 2011, o aço está 17% mais caro e isso traz um forte impacto no custo dos equipamentos porque 90% das torres levam aço. Da mesma forma, o cobre, muito utilizado nos estatores, subiu de preço no mercado internacional", disse ele. "Somando, a torre e o aerogerador consomem cerca de 70% do investimento em um parque eólico", acrescentou ele. Por esta combinação acredita na queda do deságio médio.
Outra voz a se manifestar na semana passada foi a da diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster. A executiva criticou a forma como foi organizado o leilão. Para ela, não há lógica em colocar térmicas para competir em um mesmo certame junto com as usinas de geração eólica, justamente pela forma de precificação distinta.
No primeiro dia de disputa o preço teto estipulado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) é de R$ 139,00 por MWh, exceto para a ampliação de 450 MW da usina Jirau, que será R$ 102,00 por MWh, e cujo suprimento iniciará a partir de 1º de março de 2014.
Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, o setor precisaria de pelo menos mais 10 mil MW de energia contratada nos próximos cinco anos por meio de leilões de energia exclusivos para a fonte de geração por meio dos ventos. "A participação dessa fonte na matriz elétrica nacional ainda é pequena e precisamos de mais escala para que o Brasil possa ser um polo de produção para o mercado local e exportador", comentou o representante do setor.
Simões lembrou que após a introdução de leilões exclusivos para a eólica, o governo atraiu a atenção de empresas internacionais que implantaram linhas de montagem ou de produção desses equipamentos por aqui. Entre elas, ele cita a Vestas, a Gamesa, Alstom, Suzlon, General Electric e Siemens. Ele disse que se esse programa eólico for considerado como o que chamou de voo de galinha, ou seja, não apresente longa duração, o setor produtivo ficará estagnado e, além disso, o centro de pesquisa para desenvolver tecnologicamente os equipamentos para o setor poderá ser prejudicado.
Ele preferiu não opinar sobre o deságio, mas disse que os fabricantes podem apresentam descontos até mesmo durante o leilão se o investidor não consegue vender a energia. Dessa forma, o investidor ganha um fôlego extra para apresentar nova proposta. Mas se levarmos em conta a questão do aumento de preços a tendência é de queda de desconto.
Mais capacidade
Apesar dessa posição de que a indústria nacional ainda precisa ser consolidada, empresas do setor de eólica continuam anunciando investimentos de aumento de produção. Na sexta-feira, a Argentina Impsa deu um importante passo para atender a demanda local com a perspectiva de dobrar sua capacidade na unidade de Pernambuco.
A empresa informou que investirá mais de R$ 35 milhões em Inovação e Desenvolvimento, infraestrutura, equipamentos, treinamento de mão de obra e na expansão da unidade fabril de Suape. Com isso, a empresa poderá agregar 500 MW de capacidade instalada de mesmo volume atualmente, e passará de 300 para 500 aerogeradores por ano.
"Estamos investindo no crescimento, uma vez que entendemos que ainda existe o potencial desse índice atingir aproximadamente 10% até 2020", afirma Luis Pescarmona, presidente e CEO da IMPSA Wind. Ainda no início da semana passada a própria Suzlon revelou acordo com a Aeris para a produção de pás eólicas no Estado do Ceará, cuja operação deverá ser iniciada em janeiro de 2012. (DCI)
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