O Brasil é uma das poucas nações do mundo agraciadas pela natureza com a possibilidade de usar a energia hidráulica como principal fonte de geração de eletricidade. O país tem uma das mais limpas matrizes de energia elétrica do planeta, pois três fontes renováveis (hidráulica, eólica e biomassa) representam cerca de 87% da potência instalada.
Por sua extensão territorial, o regime de chuvas no Brasil não é o mesmo para todas as regiões, e isso faz com que as usinas hidrelétricas operem no limite de sua capacidade em diferentes meses do ano. Um sistema interligado permite "exportar" ou "importar" energia de uma região para outra, o que melhora o aproveitamento dos reservatórios (alguns cálculos indicam que essa interligação aumenta em 10% a capacidade de geração de energia).
Mas, para o bom funcionamento do sistema interligado, são necessários vultosos investimentos em longas e possantes linhas de transmissão, subestações de transferência de energia e controle supereficiente para coordenar a geração com um consumo crescente (que oscila conforme o horário do dia e a época do ano), em cada região.
Pequenas falhas podem ocorrer, mas o próprio sistema interligado está programado para isolar as áreas afetadas, mantendo as demais supridas por eletricidade.
Quando acontece um apagão que chega a atingir todo um subsistema (ou até mais de um), a apuração das causas merece profunda investigação, pois a razão de ser do sistema interligado é exatamente evitar blecautes de grandes proporções.
Infelizmente, esses apagões não têm sido tão raros. Da Bahia ao Maranhão, o Nordeste ficou sem energia durante a madrugada de sexta-feira passada. Em alguns estados e cidades, o blecaute perdurou por quase cinco horas. Ficaram às escuras 47 milhões de pessoas.
As falhas técnicas do apagão foram rapidamente identificadas. No entanto, para segurança de todo o sistema interligado, é preciso que se apurem também as responsabilidades.
Tal episódio evidencia ainda mais o risco de empresas e órgãos do setor elétrico serem alvo de loteamento político. Como ainda há no setor um grupo numeroso de companhias estatais, partidos e parlamentares disputam avidamente a nomeação de apadrinhados para a cúpula dessas sisempresas ou órgãos de controle.
Sendo uma área essencialmente técnica, se o critério político se sobrepõe nas nomeações, o resultado é, sem dúvida, queda na eficiência do setor elétrico, ao ponto de se chegar à falta de energia.
Trata-se de um risco que não poderia existir, e, neste sentido, fez muito bem a presidente Dilma em intervir na disputa para nomeações de Furnas, uma empresa cuja importância para o país é reconhecida, e não pode ficar à mercê de um jogo político de quinta categoria, que só fomenta a corrupção.
O apagão que ocorreu no Nordeste pode ter outras razões, porém, em face do histórico desses episódios, deve servir de alerta para o novo governo. Preventivamente, a presidente Dilma precisa desde já jogar uma pá de cal nessa questão de apadrinhamento político, que somente fragiliza o setor elétrico ou qualquer outro. (O Globo)
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