quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Consumo de energia vai subir 7,5% este ano

Em sua palestra no Energy Summit, realizado no Rio pelo grupo IBC, o diretor de Estudos Econômicos e Ambientais da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Amilcar Guerreiro, mostrou um slide com previsão de crescimento de 7,2% no consumo nacional de energia, este ano e, de pronto, afirmou que esse número seria revisto para 7,5% - um nível incrível, diante da acomodação que se vê no resto do mundo, exceto China. Disse que, mesmo com a redução no ritmo de natalidade, o Brasil adiciona 14 milhões de pessoas a sua população, por década, e com isso gera demanda quase igual por habitação: 13,7 milhões de unidades residenciais.

- Tudo isso requer energia. Temos de respeitar o ambiente, mas permitindo a instalação de hidrelétricas, pois o Brasil adiciona o equivalente à população do Chile a cada dez anos - declarou o dirigente estatal.

Este ano é considerado atípico, devido à retração de 2009, e Guerreiro apontou que o país se prepara para aumento da demanda de energia por volta de 5% a cada ano. Citou que, há algum tempo, a geração hidráulica respondia por 90% do acréscimo e, até 2019, a hidroeletricidade será responsável por 44% do suprimento extra. O planejamento conta com nucleares, energia dos ventos, biomassa, pequenas centrais hidrelétricas e, no caso de siderurgia e indústria alcooleira, com cogeração (baseada em fontes autônomas).

Embora as térmicas a petróleo sejam caras e agressivas ao ambiente, não estão descartadas na matriz energética. A EPE conta com térmicas a óleo e quer a definição das novas centrais nucleares. Guerreiro revelou haver preocupação com o armazenamento de energia, o que antes era feito de forma barata, nos grandes lagos das usinas. A má notícia - mas compatível com o desenvolvimento do país - é que a emissão de gás carbônico na geração de energia vai passar de 400 milhões de toneladas anuais, hoje em dia, para 670 milhões de toneladas, em 2019. Apesar disso, o Brasil terá, em 2019, 52% da energia gerada com base em itens renováveis, contra média mundial de 15%. O gasto para geração extra de energia, até 2019, será de R$ 200 bilhões e, levando-se em conta petróleo, chegará a R$ 1 trilhão.

Visão tucana
No mesmo Energy Summit, o primeiro diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylberstajn, falou, tanto como especialista em energia como na qualidade de um dos responsáveis pelo projeto Serra de governo. Disse que a maior diferença entre o PSDB e o PT está na visão do papel do Estado.

- A nosso ver, o Estado não deve se meter em obras. Deve traçar normas e viabilizar empreendimentos e deixar o resto com os particulares.

Afirmou que as agências reguladoras não são "procon" - para defender o consumidor - mas devem mediar a relação entre os usuários e a indústria. "Se agirem como procons, a indústria deixa de investir", comentou. Acusou o atual governo de nomear políticos e não técnicos para as agências, o que representa, a seu ver, involução e desvirtuamento.

Zylberstajn manifestou temor de que o investimento no pré-sal poderá "micar", ou seja, o país gastaria centenas de bilhões no momento em que o petróleo pode passar a ser visto como um mal mundial, talvez comparável, no futuro próximo, ao cigarro, e poderá ser substituído antes mesmo de terminarem as reservas. Disse que Belo Monte será uma usina feita às pressas e criticou duramente a nova estatal Pré-Sal Petróleo (PPSA).

- Diretores indicados por políticos para uma trader de petróleo, o que isso vai dar? É uma enorme janela para a corrupção. Nada garante que o governo indicará boas pessoas ou bandidos - declarou, em plenário.

Em relação à decisão de substituir o sistema de concessão por partilha, Zylberstajn disse que não há, seja no Google ou no Ministério de Minas e Energia, conta provando que a partilha é mais rentável para a nação. Em seguida, declarou:

- Adotam a concessão Noruega, Canadá, Estados Unidos e Inglaterra. Optam pelo partilha Venezuela, Irã, Iraque, Arábia Saudita, Líbia e Nigéria. O Brasil está mudando de clube, associando-se ao segundo - afirmou, com ironia, esclarecendo que muitos dizem que a Noruega adota a partilha, o que, segundo ele, não corresponde à verdade.

Após as afirmações de Zylberstajn, Amilcar Guerreiro, da EPE, pediu a palavra para dizer que sempre se disse que o mercado não tinha como financiar Belo Monte e, para essa obra, foi adotada uma solução especial, para garantir o empreendimento.

Frota
O Brasil tem hoje 24,8 milhões de carros, dos quais 37% podem usar gasolina ou etanol. Em 2019, segundo a EPE, a frota será de 39,7 milhões de veículos, dos quais 78% do tipo flex.

Nova estatal
Antes de criar a Pré-Sal Petróleo (PPSA), o governo anunciou que a estatal seria enxuta, com pouco mais de 100 funcionários. A propósito, o ex-ministro Delfim Neto lembrou que, em 1972, aceitou a criação da Infraero, ante o argumento da Aeronáutica de que a nova empresa teria no máximo 600 pessoas. Hoje, contando terceirizados, a Infraero totaliza um exército de 28 mil pessoas. E não é eficiente. (Monitor Mercantil)
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