Às vésperas dos leilões de fontes alternativas e de energia de reserva, o mercado eólico brasileiro está agitado. Desde a realização do primeiro certame exclusivo para a fonte, em dezembro do ano passado, novos fabricantes anunciaram instalações de indústrias no País e a movimentação do setor cresceu.
Decidido a dar mais espaço à energia renovável, o governo optou este ano em utilizar parques eólicos, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e usinas a biomassa para atender à demanda das distribuidoras de energia para 2013, transformando o leilão A-3 em de uma licitação de fontes alternativas. O certame traz novas regras, que permitem inclusive a venda de excedentes de energia eólica para o mercado livre.
O leilão e as novas diretrizes agradaram à Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), diz Ricardo Simões, presidente da entidade, que conversou com o Jornal da Energia. O executivo está otimista para a licitação e espera a contratação de até 3.000MW da fonte pelo governo. "É preciso que seja contratado um volume grande, para criar escala", afirma o executivo.
O presidente da Abeeólica também vê como positiva a possibilidade de venda de excedentes pelos parques eólicos e revela que a associação criou um grupo de trabalho para estudar a viabilidade da comercialização da energia da fonte no mercado livre. "Vamos enviar as sugestões ao Ministério de Minas e Energia e à Aneel", garante.
Simões também adiantou que novos players estão estudando a entrada no País, como as espanholas Gamesa e Acciona e a americana Clipper, todos fabricantes de aerogeradores. "Existe uma janela de oportunidade muito clara para o País desenvolver a fonte", prevê o executivo.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Decidido a dar mais espaço à energia renovável, o governo optou este ano em utilizar parques eólicos, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e usinas a biomassa para atender à demanda das distribuidoras de energia para 2013, transformando o leilão A-3 em de uma licitação de fontes alternativas. O certame traz novas regras, que permitem inclusive a venda de excedentes de energia eólica para o mercado livre.
O leilão e as novas diretrizes agradaram à Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), diz Ricardo Simões, presidente da entidade, que conversou com o Jornal da Energia. O executivo está otimista para a licitação e espera a contratação de até 3.000MW da fonte pelo governo. "É preciso que seja contratado um volume grande, para criar escala", afirma o executivo.
O presidente da Abeeólica também vê como positiva a possibilidade de venda de excedentes pelos parques eólicos e revela que a associação criou um grupo de trabalho para estudar a viabilidade da comercialização da energia da fonte no mercado livre. "Vamos enviar as sugestões ao Ministério de Minas e Energia e à Aneel", garante.
Simões também adiantou que novos players estão estudando a entrada no País, como as espanholas Gamesa e Acciona e a americana Clipper, todos fabricantes de aerogeradores. "Existe uma janela de oportunidade muito clara para o País desenvolver a fonte", prevê o executivo.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Qual é a expectativa da Abeeólica para os leilões de reserva e de fontes alternativas?
Esperamos que o governo contrate entre 2.000MW e 3.000MW em projetos eólicos. Dos projetos que se cadastraram, acredito que empreendimentos que somem algo entre 6.000MW e 8.000MW em capacidade instalada devam depositar as garantias.
Ainda há pendências em relação aos certames?
A Abeeólica fez uma série de contribuições na consulta pública aberta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e elas foram atendidas em boa parte, como a questão de diminuir o lote mínimo para 0,1MW médio. Entretanto sob alguns pontos do leilão ainda pairam algumas dúvidas no mercado e estamos aguardando as respostas dos pedidos de informações que foram feitos à Aneel. Depois disso, poderemos fechar uma visão global sobre o edital. Restam dúvidas quanto à questão [do cálculo] da energia assegurada, de potência associada dos parques e outros fatores.
As novas regras para o leilão de fontes alternativas abriram a possibilidade de as usinas eólicas venderem excedentes de energia. Qual a opinião da associação sobre esse ponto?
A avaliação que temos é positiva. A gente entende que isso pode começar a viabilizar a eólica no mercado livre. Hoje, ela ainda não é viável nesse setor. Existem players trabalhando nisso, alguns já fizeram contratos, mas é algo ainda para se iniciar. A fonte precisa ter um critério de contabilização com um período longo como horizonte, porque, em razão da incerteza do recurso [o vento], se você faz a contabilização mensal fica difícil vender essa energia no ambiente livre. Se você passa a considerar períodos anuais ou bianuais de contabilização, provavelmente vai haver espaço para comercializar essa energia.
A associação tem contribuições e propostas nessa área?
Sim. A Abeeólica está montando um grupo de trabalho que vai ter como responsável a nossa diretora Laura Porto. E a coordenação do trabalho vai ficar a cargo da CPFL Energia. Esse grupo deve começar a trabalhar intensamente após o leilão para levar sugestões ao Ministério de Minas e Energia e à Aneel com relação a regras que viabilizem a comercialização da energia eólica no mercado livre.
Qual a importância das ICGs para o setor?
A regulação de ICGs teve um avanço substancial, porque agora o governo conseguiu dar uma garantia da licitação da ICG prévia ao leilão. A regulamentação [das centrais] teve um avanço grande desde que foi criada. Entendemos que é um instrumento extremamente válido no sentido de viabilizar a conexão das usinas eólicas. Vemos através de nossos associados que existe uma dificuldade muito grande de conexão em alguns locais, como no Ceará e no Rio Grande do Norte. Então estamos, através de nossa diretoria no Norte e Nordeste, fazendo o estudo de uma linha de transmissão, que vamos sugerir ao planejamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que vai contribuir no sentido de melhorar a conexão das usinas no litoral do Nordeste, principalmente nos Estados da Paraíba, Rio grande do Norte, Ceará e Maranhão. Fizemos uma carta convite a alguns consultores especializados em transmissão e estamos analisando essas propostas. Acreditamos que em cerca de seis meses tenhamos esse trabalho concluído. Nesse mesmo período devemos concluir os estudos sobre o mercado livre.
Tivemos recentemente novos fabricantes anunciando a instalação de fábricas no País, como Alstom, GE e Suzlon. Outros nomes têm procurado a associação para se instalar por aqui?
Sabemos que a Gamesa (empresa espanhola) está com interesse no País, assim como a Acciona (também da Espanha). Tem também a Clipper (fabricante americana), que já está com escritório montado no Brasil e deve estar nos próximos meses mais ativa no mercado.
Com esses fabricantes, deve chegar por aqui uma nova geração de equipamentos?
Naturalmente. A estagnação econômica em que se encontra o mercado europeu e a abertura desse novo mercado de energia eólica no Brasil, que é um País com um potencial gigantesco, fará com que nos tornemos certamente uma plataforma de produção de equipamentos e componentes. Isso se continuarmos realizando leilões exclusivos da fonte, e em patamares superiores a 2.000MW. Existe uma janela de oportunidade muito clara para o Brasil com a crise na Europa. Isso é muito bom, porque vai aumentar a competitividade dessa forma de geração e isso vai refletir no preço. Por isso é necessário que haja novos leilões exclusivos.
Recentemente algumas usinas eólicas tiveram desentendimentos com o Ministério Público. Isso causa alguma preocupação no setor?
Entendemos que isso são coisas pontuais. Se aqui ou ali você tem um problema com o ambiente ou com o MP, você tem que dialogar e identificar onde está o problema. Com o diálogo e a concretização dos parques, isso deve desaparecer. A energia eólica é a menina dos olhos dos ambientalistas. É uma fonte limpa, renovável, que não desaloja ninguém.
O que a fonte ainda precisa para alavancar de vez?
Volume. Precisa de volume. O governo tem que contratar mais volume de energia para a gente ser mais competitivo e transformar a energia eólica em (uma indústria com) uma plataforma de fabricação grande. Se fizermos leilões e contratação de mais de 2.000MW por um período de 10 anos, consolidaremos a fonte, que precisa de escala para ser mais competitiva. (Jornal da Energia)