RIO - O recente episódio sobre o leilão para construção da usina hidrelétrica de Belo Monte reacende o debate sobre as fontes usadas no Brasil para produção de energia. Embora forneça energia limpa e com baixa emissão de poluentes, essa hidrelétrica apresenta uma série de entraves, desde questões políticas e ambientais ao impacto que gerará à comunidade do entorno.
O projeto para construção de Belo Monte renasce após 30 anos de discussões acerca de sua viabilidade e em meio à corrida eleitoral. Os R$ 19 bilhões iniciais previstos para a concretização do projeto podem chegar a quase R$ 35 bilhões, segundo expectativas das empresas que estudaram a construção. A alta do valor de implementação do projeto ainda poderá influenciar o preço final da energia gerada na usina, um dos critérios tidos como vantajosos para que Belo Monte saísse do papel.
Paralelamente, os impactos ambientais e sociais que a construção da usina trarão à comunidade são imensos. Além de ser necessária a alteração do curso do rio, deslocando grandes quantidades de recursos naturais como rochas e terra, e a inundação de uma parte da floresta, o que emite mais gás carbônico, a usina mudará drasticamente a rotina dos moradores da região. E, mesmo com todo esse esforço, a usina só começará a gerar energia em meados de 2015.
Diante do cenário de dificuldades para a construção de Belo Monte, existe a possibilidade de pensarmos em outras fontes de energia que, igualmente, emitem menor teor de poluentes. A geração de energia a partir de biomassa, além de demandar menor capital para a implementação de projetos, garante a geração de energia em menor tempo. Outra vantagem é que a construção das usinas pode ser centralizada na área de consumo, o que diminui os custos de transmissão. A estimativa é que, no prazo de dois a três anos, uma térmica de biomassa já poderia fornecer energia.
Outro ponto a favor da biomassa, frente à Belo Monte, é o baixo impacto direto aos recursos naturais e seu entorno. A geração a biomassa, aliás, agrega utilidade a um resíduo natural, antes descartado sem utilização, movimentando a economia do entorno, uma vez que cria uma nova demanda por produtos e trabalhadores.
De acordo com especialistas, com os investimentos necessários, a biomassa pode responder anualmente pela produção de 5 mil megawatts ao ano, quantidade considerada ideal para inclusão anual no sistema elétrico brasileiro, para manutenção do crescimento do país. Ao longo do tempo, a tendência é que a tecnologia para a implementação de termoelétricas de biomassa, hoje considerada cara, se torne mais barata, proporcionalmente à sua utilização.
A matriz energética brasileira é considerada uma das mais limpas do mundo. Cerca de 45% da energia gerada no Brasil é resultado de fonte renovável, segundo especialistas. A matriz é formada, atualmente, por 85% de energia produzida em hidrelétricas e 5,4% a partir de termoelétricas à biomassa.
Especificamente sobre biomassa, como grande trunfo em relação aos demais países, o Brasil possui um clima favorável a esse tipo de geração de energia. Também, a biodiversidade contribui para a existência de uma ampla gama de recursos que podem ser utilizados na produção de energia com biomassa.
Outro ponto de destaque para a utilização da biomassa é o custo da matéria-prima inicial, que sofre menor flutuação no mercado, frente a outras fontes, e pode gerar menor impacto no preço final da energia. A expectativa é que, entre três e cinco anos, o país esteja em fase madura no processo de geração de energia com biomassa.
O Brasil tem muito a ganhar com a geração a biomassa. Além de funcionar muito bem e gerar ganhos ambientais e financeiros, gera oportunidades. Com o tempo e o amadurecimento desse mercado, as indústrias de biomassa deverão se estruturar e dar mais velocidade à criação e negociação de uma energia mais limpa e mais barata. Autor: Philippe Roques é diretor industrial da Dalkia Brasil (Jornal do Brasil)