sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pesquisadores desenvolvem medidor eletrônico 100% nacional

O Brasil ganhou um medidor eletrônico 100% nacional. O equipamento, denominado Centro de Monitoramento de Usos Finais (CMUF), que foi produzido com apoio da Finep, é resultado do trabalho de equipe de estudantes de diferentes níveis de escolaridade – do ensino técnico a doutores. Eles foram orientados pelo professor Fábio Jota, do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG; pela professora Patrícia Romeiro, do Cefet-MG; e pelo engenheiro Eduardo Carvalhaes, da Cemig.

Hoje, o gasto de energia é calculado pelo tradicional medidor de energia, o relógio instalado na parte externa dos imóveis e que se limita a identificar o consumo total. Já o CMUF permite mensurar o gasto de cada aparelho eletrônico em separado, além de apresentar os dados em tempo real. Diferentemente do relógio, o sistema se vale de módulos ligados à fiação interna do imóvel. A partir deles, são enviadas informações para um banco de dados, onde são convertidas em gráficos que mostram quais aparelhos consomem mais energia naquele momento.

A grande vantagem do CMUF é a sua viabilidade técnica e financeira. “Existem outros métodos de fazer o que o nosso sistema faz, mas eles são extremamente caros, o que inviabiliza a sua disseminação”, diz Fábio Jota. Normalmente, diz o professor, esses métodos medem a corrente e a tensão elétrica, lançam os dados na Internet e fazem os cálculos necessários. “O CMUF, por sua vez, faz isso tudo de forma virtual e apresenta, instantaneamente, os gráficos relativos ao consumo de energia. É uma tecnologia que reduz tempo, trabalho e custos”, analisa Jota.

O CMUF é uma ferramenta de monitoramento que permite concretizar uma economia expressiva de energia elétrica tanto em residências quanto em instituições públicas e privadas. Por meio dele é possível identificar aparelhos com possíveis defeitos técnicos e que, por isso, tendem a consumir mais energia do que deveriam. O sistema também aponta onde está o maior gasto de energia. “Muitas vezes, os pais cobram dos filhos a diminuição do tempo de banho, considerando-o o grande vilão da conta de luz. O nosso sistema mostrou que, em muitas casas, os computadores, quando ligados durante o dia inteiro, gastam muito mais energia do que o chuveiro”, exemplifica Fábio Jota.

Nas grandes instituições, a economia pode ser enorme. É possível detectar, em tempo real, aparelhos ligados sem necessidade, como um ar-condicionado numa sala vazia. Além disso, o sistema permite saber se terceiros estão mantendo a devida preocupação com os gastos energéticos. Um exemplo são alguns órgãos públicos que terceirizam o serviço de cantina. Como ela apenas utiliza a energia do prédio e não arca com nenhum custo, seus administradores não atentam para medidas de economia. Tal atitude é imediatamente detectada pelo CMUF.

Os coordenadores do projeto estão monitorando 15 edificações em Belo Horizonte e uma em Juiz de Fora. Fábio Jota estima que, na UFMG, uma combinação de programas educativos e monitoramento dos aparelhos eletrônicos através do CMUF poderia resultar na economia de aproximadamente 20% da energia elétrica.

O sistema já foi patenteado em âmbito nacional e internacional. O desafio agora é transformá-lo em produto e serviço. Para tanto, é necessário estabelecer parcerias. O primeiro passo é encontrar uma empresa do ramo de hardwares interessada em converter os módulos em chips, para produção em larga escala. “Com a tecnologia pronta, a Cemig poderia oferecer o serviço com facilidade, podendo inclusive lucrar com isso. O cidadão pagaria uma quantia e a Cemig apresentaria a ele um estudo com propostas de racionalização do uso de energia em sua residência”, avalia Fábio Jota.

Mas o professor teme não encontrar parceiros no Brasil, de pouca tradição em desenvolvimento de hardwares. As empresas nacionais receiam investir, pois alegam que, se outros países lançarem um chip mais avançado, poderão não ter retorno financeiro. “Pode ocorrer de instituições estrangeiras licenciarem a nossa patente, desenvolverem o produto e, futuramente, exportarem para nós. Compraremos no exterior o resultado de um trabalho brasileiro. A situação é lamentável, mas não é incomum”, alerta Fábio Jota. (Jornal da Energia)
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