Nem a curiosidade chinesa da State Grid ou a voracidade consumista da Cemig foram suficientes para comprar a Celpa, em recuperação judicial desde março. Tampouco houve interesse pelos 54% do capital do grupo Rede Energia, que controla a distribuidora do Pará, detidos por Jorge Queiroz, que colocou os papéis à venda no fim de 2011. Até mesmo a Eletrobras se mantém impassível, mesmo dona de 35% de participação na holding. Restou a CPFL Energia na sala, a única corporação que ainda não manifestou publicamente falta de apetite pelo negócio.
Não que a companhia de Campinas tenha interesse numa das regiões de mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, alto grau de dispersão de consumidores, perdas comerciais de até 20% e milhares de quilômetros de redes rurais para cuidar. “Está completamente fora do racional estratégico”, reforça Ricardo Correa, analista da Ativa Corretora. Mas, segundo o mercado, a proposta que cairia como uma luva para a CPFL é a aquisição do enclave paulista do Rede Energia, composto das distribuidoras Caiuá, Bragantina, Vale Paranapanema e Nacional, todas razoavelmente equilibradas. E com a venda desses ativos, o Rede poderia tentar salvar a empresa paraense.
Outra possibilidade para a Celpa é a pequenina Força e Luz do Oeste, com quase 50 mil clientes no Paraná. A concessionária já teve até uma declaração de namoro por parte do presidente da Copel, Lindolfo Zimmer. Mais dinheiro, assim, entraria no caixa do Rede.
Independente dessa possibilidade, o mercado, frisa Correa, torce mesmo é para que a Eletrobras não ceda a pressões para amargar mais uma federalização forçada em distribuição, com prejuízos certos para os acionistas minoritários, a exemplo dos casos recentes de CEA e Celg. “Se o papel do grupo passa a ser de pronto-socorro para empresas malgeridas, isso precisa ficar explícito”, cobra.
Outra grande expectativa, do ponto de vista institucional e regulatório, é sobre a postura da Aneel diante da grave situação da Celpa. Por enquanto a agência age como manda o figurino nesses casos. Recusou-se a antecipar reajuste tarifário e, pela primeira vez na história, iniciou rito processual que, em tese, poderá culminar até mesmo com a caducidade da concessão.
A questão, segundo fontes ouvidas pela Brasil Energia, é que não houve o mesmo rigor em casos semelhantes na área estatal. Isso deixa em dúvida a efetiva determinação para a solução do problema, o que caracterizaria um desalinhamento no tratamento de problemas em comum.
O ano começou mal - O ano de 2012 começou estranho no Rede Energia desde que seu controlador, Jorge Queiroz, admitiu abertamente o interesse em vender sua parte. Depois veio o pedido de recuperação judicial da Celpa, incapaz de liquidar dívidas de curto prazo da ordem de R$ 2 bilhões.
Não que a situação da Celpa como empresa privada já tenha sido confortável. Perdas, apagões e queixas dos clientes custaram pesadas multas impostas pela Aneel. Essa instabilidade contaminou as coligadas Cemat e Celtins entre as agências de risco. Depois vieram greves dos trabalhadores, que cobram o pagamento de parcelas atrasadas de um acerto trabalhista.
De razoável, a Justiça do Pará se manifestou favorável ao pedido de recuperação, mas indicou como gestor do processo o advogado eleitoral Mauro Santos, ligado ao governador do Pará, Simão Jatene. Na sequência, porém, a bancada do estado no Congresso Nacional foi cobrar do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, retornando de mãos vazias.
Em meio ao pesadelo, o rumor mais recente era de que o Grupo Equatorial poderia fazer uma proposta. Mas, outra vez, estaria sendo empurrado por interesses políticos regionais. ( Revista Brasil Energia)
Leia também:
* Governo planeja construir 27 eclusas
* TCU decide em breve ressarcimento em contas de luz
* Pinga-Fogo Setor Elétrico: Aneel, Belo Monte e Eletrobras
* Comissão do Senado mostra preocupação com modelo de grandes hidrelétricas
Leia também:
* Governo planeja construir 27 eclusas
* TCU decide em breve ressarcimento em contas de luz
* Pinga-Fogo Setor Elétrico: Aneel, Belo Monte e Eletrobras
* Comissão do Senado mostra preocupação com modelo de grandes hidrelétricas