terça-feira, 26 de novembro de 2013

Estrangeiros focam programa nuclear

A abertura de um escritório brasileiro pela gigante russa Rosatom, uma das principais fornecedoras de equipamentos para usinas nucleares, deve elevar o tom das pressões para a retomada do programa nuclear brasileiro — que foi colocado em banho-maria após o acidente de Fukushima, no Japão, em 2011. Representantes do setor têm intensificado as visitas à estatal Eletronuclear e ao governo brasileiro, para se apresentar como potenciais parceiros para as novas usinas. O objetivo é convencer o governo a abrir pelo menos parte dos projetos à iniciativa privada.

"A Rosatom tem repetidamente demonstrado seu desejo de discutir sua participação no financiamento e nos investimentos para apoiar o projeto de construção de usinas nucleares no Brasil", diz o vice-presidente e chefe do Departamento de Relações Públicas da JSC Rosatom Overseas, Ivan Dybov. O escritório será aberto no Rio, pela proximidade com a Eletronuclear, e representa um segundo passo nas relações da empresa russa com o Brasil — em 2011, a companhia já havia se filiado à Associação Brasileira para o Desenvolvimento para as Atividades Nucleares (Abdan). "O mercado brasileiro faz parte do nosso foco", afirma o executivo.

A crise europeia e as restrições à energia nuclear em países europeus após o acidente de Fukushima mudaram o foco das empresas fornecedoras do setor para países em desenvolvimento, notadamente China, índia, Brasil e países do Leste Europeu. Na Europa, muitos governos reduziram o ritmo de construção de novas usinas. A Alemanha foi além e anunciou um programa de desativação de seu parque nuclear a médio prazo. Projeções internacionais apontam que a taxa de crescimento da capacidade global deve ser 10% menor do que o previsto antes do acidente. Em 2011, o número de novas construções despencou para 4, ante 16 no ano anterior.

A "expansão da geografia da indústria nuclear", nas palavras de Dybov, trouxe os principais fabricantes ao Brasil. "Temos recebido demonstrações de interesse de vários grupos", diz o presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro. Além da Rosatom, as francesas Areva e EDF e a americana Wes-tinghouse já estiveram na estatal em busca de sinais sobre uma pos -sível abertura do setor.

Há um ano, a Areva esteve no Brasil para apresentar seu novo reator e se colocar como parceira potencial para "fazer o programa de novas construções nucleares um sucesso real", segundo texto de divulgação. Este mês, a companhia ganhou licitação de € 1,25 bilhão para construção do reator da usina de Angra 3, a última da primeira fase do programa nuclear brasileiro, iniciado na década de 70. No comunicado em que noticia o contrato, o presidente da Areva, Luc Orseil, avalia que a obra "confirma o compromisso do Brasil em um ambicioso programa nuclear".

Lançado em 2006, o novo programa nuclear brasileiro prevê a construção de quatro novas usinas até 2030. O projeto, porém, perdeu força diante de Fukushima e dos altos custos para a construção deste tipo de usina. Hoje, o governo trabalha na revisão do Plano Nacional de Energia (PNE), agora com horizonte até 2050. Ainda não há definição sobre o futuro da energia nuclear, mas a Empresa de Planejamento Energético (EPE) avalia que a fonte é uma alternativa importante para a complementação térmica na base (gerando a todo o tempo), que tem por objetivo ajudar a poupar água nos reservatórios das hidrelétricas. A avaliação é que, a partir de 2030, com o esgotamento do potencial hidrelétrico, o país precisará lançar mão de térmicas para complementar o parque gerador.

"A participação de empresas privadas na geração de energia nuclear no Brasil é uma alternativa que pode ser considerada. As experiências de participação do setor privado no setor de energia brasileiro têm sido muito positivas", diz o secretário de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura. "Mas a área nuclear é mais complexa, depende de discussão com o Congresso, a Casa Civil, a Defesa", pondera.

O setor privado está esperançoso quanto à possibilidade de que possa entrar neste setor no Brasil. "Tivemos sinalizações positivas do Ministério de Minas e Energia recentemente e temos várias empresas interessadas em entrar na geração de energia nuclear no país", afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), Luiz Fernando Vianna, que é otimista quanto ao avanço da discussão no primeiro ano do próximo governo. "Como 2014 é ano eleitoral, propostas polêmicas não costumam entrar em pauta. Mas 2015 é um bom ano para a retomada do tema", considera.

"O grande problema das usinas nucleares é o alto custo de implantação", diz o professor Nivalde de Castro, que não vê muito espaço para o crescimento do parque gerador nacional. (Brasil Econômico)
Leia também:
Energia solar: sem incentivo não há esperança
Aneel apresenta resultado do mapeamento das ouvidorias do setor elétrico
Se eu pudesse voltar atrás, não teria sido diretor, diz Edvaldo Santana