terça-feira, 14 de maio de 2013

Governo calculou mal taxas de retorno, dizem analistas

O fraco interesse no leilão de linhas de transmissão, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na sexta-feira, foi interpretado pelos analistas como um sinal de que o governo calculou mal as taxas de retorno fixadas para os empreendimentos. O deságio de 11,96% foi o mais baixo desde 2008, quando o desconto médio oferecido no leilão das linhas de transmissão do rio Madeira atingiu 7,15%. 

"É hora de [o governo] repensar sua estratégia", escreveu o analista do Itaú BBA, Marcos Severine, em seu relatório sobre os resultados do último leilão. Na sua avaliação, a falta de interesse dos investidores demonstra que houve "alguns equívocos". 

Para a analista do banco UBS, Lilyanna Yang, a falta de interesse reflete, além das baixas taxas de retorno especificadas pela Aneel, o impacto da renovação das concessões para as empresas de transmissão, como Eletrobras, Cemig, Copel e Cteep. As linhas que tiveram suas concessões prorrogadas sofreram um corte de 70% em suas receitas anuais permitidas (RAP). 

A taxa de retorno regulatória (conhecida pela sigla WACC, em inglês) fixada pela Aneel para os projetos leiloados na sexta-feira foi de 5%, abaixo dos 5,6% estabelecidos em 2011. 

Em entrevista concedida após o leilão, em São Paulo, o diretor da Aneel, Julião Coelho, defendeu os percentuais fixados. Segundo ele, o cálculo das taxas de retorno segue parâmetros "bem definidos e transparentes", que incluem indicadores como o risco Brasil. "Esse é um processo que passa por audiência pública e não depende de discricionalidade". Segundo Coelho, a falta de interesse no leilão também não reflete a renovação das concessões, mas sim outros fatores, como questões fundiárias. 

No entanto, grande parte dos analistas faz outra leitura. O resultado do leilão indica que "existem oportunidades melhores de expansão via fusões e aquisições, o que tem sido a estratégia da Taesa, ou em outros segmentos, como o investimento da Alupar em geração de energia", escreveram os analistas BofA Merrill Lynch, Felipe Leal, Diego Moreno, Luiz Antonio Leite. Eles também consideram positiva a não participação da Copel no leilão, o que sinaliza que a estatal pode adotar uma política de distribuição de dividendos mais favorável. 

Na avaliação de Lilyanna Yang, questiona-se no setor se o governo irá elevar as taxas de retorno para as linhas de transmissão, como foi feito para as rodovias. "Não sabemos a resposta, mas estamos inclinados a dizer que não". (Valor Econômico)

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