Editorial
Pouco importa para o cidadão comum saber se, desta vez, o problema foi causado pela empresa distribuidora ou pela empresa de transmissão da energia consumida em São Paulo. O que importa, e o irrita, é constatar que o fornecimento de energia é interrompido com frequência cada vez maior, numa evidência de que as autoridades e as empresas concessionárias não estão conseguindo estancar o processo de deterioração dos serviços. Cada vez mais pessoas ficam sem luz, embora por períodos menores, sem que se vislumbre melhoria do abastecimento no futuro próximo. Por falta de investimentos, é possível que a situação ainda piore antes de começar a melhorar, se daqui para a frente os investimentos forem feitos na velocidade e no volume necessários.
Os danos são extensos. O apagão que afetou a capital na quinta-feira deixou sem energia cerca de 700 mil unidades consumidoras - isto é, residências e empresas conectadas à rede de distribuição - em dezenas de bairros nas zonas sul e oeste. Não foram 700 mil pessoas afetadas. Só nas "unidades consumidoras" vivem de 2,5 milhões a 3 milhões de pessoas, admitindo-se a média de 4 pessoas por habitação, que ficaram sem luz das 19h06 até, em muitos casos, as 21 horas. Centenas de milhares de pessoas que deixavam seus locais de trabalho - muitas ficaram presas em elevadores - tiveram de enfrentar a escuridão das ruas, a confusão no trânsito causada pelo desligamento dos semáforos e até a paralisação da Linha 4 do Metrô.
Do modo como as concessionárias têm explicado as razões do blecaute, os problemas parecem prosaicos. Desta vez, como justificou a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), foi uma "ocorrência" em uma das barras da Subestação Milton Fornasaro, no Jaguaré, que provocou uma ação de proteção do sistema, da qual resultou o desligamento de toda a subestação e, em consequência, a suspensão do fornecimento da energia para a empresa AES Eletropaulo, que a distribui para sua rede de consumidores.
Só neste ano, este é pelo menos o terceiro problema grave na rede da Cteep. Em fevereiro, falhas na Subestação Bandeirantes, na Marginal do Pinheiros, deixaram sem luz 2,5 milhões de pessoas. Na ocasião, a empresa explicou que a queda de um disjuntor de um dos três transformadores levou ao desligamento da subestação. O mesmo problema fora registrado na mesma subestação em 2008. Em março, cerca de 15 cidades do noroeste do Estado ficaram sem energia por problemas numa subestação da Cteep, causados, segundo a empresa, por um objeto metálico que provocou um curto-circuito.
A empresa deveria ter mecanismos de prevenção de problemas como esses, se eles são tão simples. Razão tem o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal, ao reagir com irritação a justificativas como essas de que as concessionárias vêm lançando mão sempre que ocorrem problemas em suas redes. "O sistema de proteção dessa subestação deve estar velho, carente de investimentos", disse o secretário, em entrevista à rádio Estadão ESPN, na qual comentou o blecaute de quinta-feira em São Paulo.
O secretário informou que o governo de São Paulo vai solicitar à Agência Nacional de Energia Elétrica a aplicação de "multa fortíssima" à Cteep. A multa tem sido o recurso mais frequente utilizado pelos órgãos públicos encarregados de fiscalizar os serviços prestados pelas concessionárias de energia elétrica. Em junho, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo aplicou multa de R$ 26,7 milhões à AES Eletropaulo por problemas de fornecimento de energia entre 2009 e maio de 2010. Há pouco, aplicou nova multa, de R$ 4,84 milhões, pelo apagão ocorrido no início de junho.
As multas são necessárias, mas, para o consumidor, melhor seria se as concessionárias colocassem em prática os planos de investimentos que se comprometeram a executar para melhorar e ampliar seus serviços, e se os órgãos fiscalizadores cobrassem com mais eficácia a execução desses planos. (O Globo)
Leia também:
* Pinga-Fogo Setor Elétrico: EDP, MME, e BNDES
* Agências reguladoras podem ser alvo de auditoria anual do TCU
* Concessionárias públicas lideram queixas no Procon
Pouco importa para o cidadão comum saber se, desta vez, o problema foi causado pela empresa distribuidora ou pela empresa de transmissão da energia consumida em São Paulo. O que importa, e o irrita, é constatar que o fornecimento de energia é interrompido com frequência cada vez maior, numa evidência de que as autoridades e as empresas concessionárias não estão conseguindo estancar o processo de deterioração dos serviços. Cada vez mais pessoas ficam sem luz, embora por períodos menores, sem que se vislumbre melhoria do abastecimento no futuro próximo. Por falta de investimentos, é possível que a situação ainda piore antes de começar a melhorar, se daqui para a frente os investimentos forem feitos na velocidade e no volume necessários.
Os danos são extensos. O apagão que afetou a capital na quinta-feira deixou sem energia cerca de 700 mil unidades consumidoras - isto é, residências e empresas conectadas à rede de distribuição - em dezenas de bairros nas zonas sul e oeste. Não foram 700 mil pessoas afetadas. Só nas "unidades consumidoras" vivem de 2,5 milhões a 3 milhões de pessoas, admitindo-se a média de 4 pessoas por habitação, que ficaram sem luz das 19h06 até, em muitos casos, as 21 horas. Centenas de milhares de pessoas que deixavam seus locais de trabalho - muitas ficaram presas em elevadores - tiveram de enfrentar a escuridão das ruas, a confusão no trânsito causada pelo desligamento dos semáforos e até a paralisação da Linha 4 do Metrô.
Do modo como as concessionárias têm explicado as razões do blecaute, os problemas parecem prosaicos. Desta vez, como justificou a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), foi uma "ocorrência" em uma das barras da Subestação Milton Fornasaro, no Jaguaré, que provocou uma ação de proteção do sistema, da qual resultou o desligamento de toda a subestação e, em consequência, a suspensão do fornecimento da energia para a empresa AES Eletropaulo, que a distribui para sua rede de consumidores.
Só neste ano, este é pelo menos o terceiro problema grave na rede da Cteep. Em fevereiro, falhas na Subestação Bandeirantes, na Marginal do Pinheiros, deixaram sem luz 2,5 milhões de pessoas. Na ocasião, a empresa explicou que a queda de um disjuntor de um dos três transformadores levou ao desligamento da subestação. O mesmo problema fora registrado na mesma subestação em 2008. Em março, cerca de 15 cidades do noroeste do Estado ficaram sem energia por problemas numa subestação da Cteep, causados, segundo a empresa, por um objeto metálico que provocou um curto-circuito.
A empresa deveria ter mecanismos de prevenção de problemas como esses, se eles são tão simples. Razão tem o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal, ao reagir com irritação a justificativas como essas de que as concessionárias vêm lançando mão sempre que ocorrem problemas em suas redes. "O sistema de proteção dessa subestação deve estar velho, carente de investimentos", disse o secretário, em entrevista à rádio Estadão ESPN, na qual comentou o blecaute de quinta-feira em São Paulo.
O secretário informou que o governo de São Paulo vai solicitar à Agência Nacional de Energia Elétrica a aplicação de "multa fortíssima" à Cteep. A multa tem sido o recurso mais frequente utilizado pelos órgãos públicos encarregados de fiscalizar os serviços prestados pelas concessionárias de energia elétrica. Em junho, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo aplicou multa de R$ 26,7 milhões à AES Eletropaulo por problemas de fornecimento de energia entre 2009 e maio de 2010. Há pouco, aplicou nova multa, de R$ 4,84 milhões, pelo apagão ocorrido no início de junho.
As multas são necessárias, mas, para o consumidor, melhor seria se as concessionárias colocassem em prática os planos de investimentos que se comprometeram a executar para melhorar e ampliar seus serviços, e se os órgãos fiscalizadores cobrassem com mais eficácia a execução desses planos. (O Globo)
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