Quando se fala em Smart Grids (Redes Inteligentes de Energia) é muito recorrente a ideia de um produto pronto, que promete revolucionar a forma como é feita a distribuição e o monitoramento do consumo de energia elétrica. Porém, o que na maior parte das vezes se esquece, é que este conceito tecnológico é bastante amplo e deve ser moldado de forma diferente para cada país, encontrando seu próprio caminho a partir da estrutura, da legislação e das peculiaridades de cada um deles.
Atualmente existe no Brasil uma consulta pública para a estipulação de novos medidores residenciais de consumo de energia elétrica, que atualmente contabilizam cerca de 64 milhões em todo o país. Este pode se tornar o primeiro passo para a implantação de um sistema de Smart Grids, uma vez que o equipamento que faz a medição é também o responsável pela captação e processamento das informações da casa.
Mas para que, de fato, ocorra a implantação de um sistema inteligente, existem diversas questões que devem ser levadas em consideração. A mais importante é que o formato escolhido para nós não precisa ser necessariamente igual aos que já existem em outros países. O recomendado é que elaboremos um modelo específico que se encaixe no cenário energético brasileiro.
Para isso deve-se levar em conta também que o conceito de Smart Grids envolve uma variedade muito grande de possibilidades. Atualmente já existem experiências sendo desenvolvidas em algumas regiões dos EUA e da Europa, que comprovam a viabilidade das tecnologias de monitoramento em real-time e a comunicação de mão-dupla entre a casa do consumidor e a concessionária.
O que se percebe é que essas tecnologias trazem inúmeras possibilidades, como, por exemplo, que eventuais falhas possam ser detectadas e corrigidas mais rapidamente, ou o combate a fraudes e ligações clandestinas como os populares “gatos". Além disso, por meio da divulgação de dados mais sólidos e detalhados sobre o consumo em cada residência, pode-se também elaborar estratégias de controle de utilização e tarifação, e, por consequência, modificar o relacionamento das empresas de energia com seus clientes.
O principal ponto de discussão sobre as Smart Grids é que com todas essas inovações, a implantação do serviço demanda grandes investimentos por parte das concessionárias de energia, que precisam incorporar sistemas de Telecomunicações em suas estruturas para dar conta do desenvolvimento desses processos. Este, talvez, seja o principal obstáculo para a implantação do sistema no Brasil, onde as relações custo benefício ainda não se mostram equilibradas.
Para implantar uma rede inteligente as empresas de energia precisam ou construir sua própria rede de Telecomunicações, ou firmar parcerias com operadoras de telefonia que forneçam o suporte necessário para a transmissão das informações. Outra alternativa, que pode ser considerada bastante viável, é a utilização da própria rede elétrica para a transmissão dos dados, por meio da tecnologia PLC (Power Line Communications), que já foi implantada com sucesso em Portugal e está em fase de testes no Brasil.
O problema é que mesmo os inúmeros benefícios relacionados às Smart Grids ainda não são suficientes para impulsionar a implantação do sistema em solo brasileiro. Uma das alternativas poderia ser um incentivo vindo por parte do próprio governo, uma vez que as vantagens proporcionadas por esta tecnologia favorecem diretamente toda a população.
Para se ter uma ideia, uma Smart Grid, no topo de suas potencialidades, possibilitaria inclusive a comercialização de energia elétrica a partir das próprias residências, ou mesmo dos carros elétricos, que poderiam acumular eletricidade em períodos onde o valor é mais baixo, e devolvê-la em períodos de pico, quando o preço é mais alto. Além disso, também existe a opção de acompanharmos o consumo de energia elétrica de nossas residências em tempo real, por meio de um banco de dados. Este processo geraria um controle maior sobre o consumo de energia elétrica, tanto por parte do usuário quanto da concessionária, que resultaria em menos desperdício e maiores benefícios financeiros e até mesmo ambientais.
Como podemos observar, as Smart Grids podem ser muito mais do que uma simples solução para distribuição e mensuração do consumo de energia, uma vez que podem interferir diretamente junto aos hábitos de consumo da população. Mas o funcionamento de cada sistema vai depender exclusivamente de quanto as concessionárias estão dispostas a investir. No caso do Brasil, essa discussão talvez ainda demore um pouco, mas já demonstra um grande avanço no que diz respeito à busca pelo desenvolvimento energético brasileiro.
*Roberto Galvão é consultor das áreas de Utilities e Telecomunicações da Teradata Brasil, empresa especializada em datawarehousing e soluções analíticas. (Jornal da Energia)
Atualmente existe no Brasil uma consulta pública para a estipulação de novos medidores residenciais de consumo de energia elétrica, que atualmente contabilizam cerca de 64 milhões em todo o país. Este pode se tornar o primeiro passo para a implantação de um sistema de Smart Grids, uma vez que o equipamento que faz a medição é também o responsável pela captação e processamento das informações da casa.
Mas para que, de fato, ocorra a implantação de um sistema inteligente, existem diversas questões que devem ser levadas em consideração. A mais importante é que o formato escolhido para nós não precisa ser necessariamente igual aos que já existem em outros países. O recomendado é que elaboremos um modelo específico que se encaixe no cenário energético brasileiro.
Para isso deve-se levar em conta também que o conceito de Smart Grids envolve uma variedade muito grande de possibilidades. Atualmente já existem experiências sendo desenvolvidas em algumas regiões dos EUA e da Europa, que comprovam a viabilidade das tecnologias de monitoramento em real-time e a comunicação de mão-dupla entre a casa do consumidor e a concessionária.
O que se percebe é que essas tecnologias trazem inúmeras possibilidades, como, por exemplo, que eventuais falhas possam ser detectadas e corrigidas mais rapidamente, ou o combate a fraudes e ligações clandestinas como os populares “gatos". Além disso, por meio da divulgação de dados mais sólidos e detalhados sobre o consumo em cada residência, pode-se também elaborar estratégias de controle de utilização e tarifação, e, por consequência, modificar o relacionamento das empresas de energia com seus clientes.
O principal ponto de discussão sobre as Smart Grids é que com todas essas inovações, a implantação do serviço demanda grandes investimentos por parte das concessionárias de energia, que precisam incorporar sistemas de Telecomunicações em suas estruturas para dar conta do desenvolvimento desses processos. Este, talvez, seja o principal obstáculo para a implantação do sistema no Brasil, onde as relações custo benefício ainda não se mostram equilibradas.
Para implantar uma rede inteligente as empresas de energia precisam ou construir sua própria rede de Telecomunicações, ou firmar parcerias com operadoras de telefonia que forneçam o suporte necessário para a transmissão das informações. Outra alternativa, que pode ser considerada bastante viável, é a utilização da própria rede elétrica para a transmissão dos dados, por meio da tecnologia PLC (Power Line Communications), que já foi implantada com sucesso em Portugal e está em fase de testes no Brasil.
O problema é que mesmo os inúmeros benefícios relacionados às Smart Grids ainda não são suficientes para impulsionar a implantação do sistema em solo brasileiro. Uma das alternativas poderia ser um incentivo vindo por parte do próprio governo, uma vez que as vantagens proporcionadas por esta tecnologia favorecem diretamente toda a população.
Para se ter uma ideia, uma Smart Grid, no topo de suas potencialidades, possibilitaria inclusive a comercialização de energia elétrica a partir das próprias residências, ou mesmo dos carros elétricos, que poderiam acumular eletricidade em períodos onde o valor é mais baixo, e devolvê-la em períodos de pico, quando o preço é mais alto. Além disso, também existe a opção de acompanharmos o consumo de energia elétrica de nossas residências em tempo real, por meio de um banco de dados. Este processo geraria um controle maior sobre o consumo de energia elétrica, tanto por parte do usuário quanto da concessionária, que resultaria em menos desperdício e maiores benefícios financeiros e até mesmo ambientais.
Como podemos observar, as Smart Grids podem ser muito mais do que uma simples solução para distribuição e mensuração do consumo de energia, uma vez que podem interferir diretamente junto aos hábitos de consumo da população. Mas o funcionamento de cada sistema vai depender exclusivamente de quanto as concessionárias estão dispostas a investir. No caso do Brasil, essa discussão talvez ainda demore um pouco, mas já demonstra um grande avanço no que diz respeito à busca pelo desenvolvimento energético brasileiro.
*Roberto Galvão é consultor das áreas de Utilities e Telecomunicações da Teradata Brasil, empresa especializada em datawarehousing e soluções analíticas. (Jornal da Energia)