Enquanto o governo ainda comemora os preços baixos ofertados no ultimo leilão de energia, realizado em agosto, as fabricantes de equipamentos afirmam que o valor médio ofertado, que ficou em R$ 99,54 MWh, não se sustentará, mas já se preparam para a próxima disputa por meio de negociações com seus clientes. De acordo com as empresas ouvidas, a expectativa é de que, para o leilão de dezembro - chamado de A-5, que é para projetos que deverão entrar em operação em 2016 -, uma negociação possa levar a uma nova redução da margem para viabilizar a disputa.
Essa nova queda pode ser feita pela grande oferta de equipamentos para o setor em decorrência da retração da economia mundial, principalmente nos EUA, que reduziram o ritmo de implantação de parques eólicos por lá e que forçou empresas entrar no Brasil para comercializar seus equipamentos. Porém, ninguém admite essa possibilidade oficialmente, onde afirmam que o ideal é de elevar os preços, que na avaliação da Alstom está abaixo do que se poderia praticar.
Para a dinamarquesa Vestas, as condições comerciais no Brasil estão em um patamar em que é difícil de ganhar dinheiro, fato que pode dificultar o estabelecimento de uma unidade de produção por aqui.
A argentina Impsa, que recentemente anunciou a ampliação de sua fábrica em Pernambuco, distoou do discurso uníssono. O gerente geral da empresa para a divisão eólica, Emílio Guiñazu, afirmou em um momento que essas são as condições e que o setor tem que se adaptar. Contudo, o valor do leilão do mês passado alcançou o piso possível com as condições atuais. "O preço só deverá baixar se alguma coisa excepcional ocorrer na economia", analisou ele. "Cada vez mais temos o aumento nos custos de produção em decorrência da alta do preço das commodities e o aço é a parte importante na formação desses preços que representam até 75% do investimento em um parque eólico", completou ele. Para o executivo, a disputa de dezembro não traz grande diferença de competitividade para empresas.
Na realidade, ele explica que o impacto é inverso, justamente por conta do longo prazo para a implementação do projeto Essa é a mesma opinião do presidente da Wobben-Enercon, Pedro Vial, que aponta riscos no longo prazo para esses negócios. O executivo disse que a empresa ainda poderá negociar uma margem adicional com clientes para ser competitiva no próximo leilão.
Essa margem é tratada como segredo de estado entre as concorrentes. Para a General Electric deve haver essa margem para manobra, mas seu gerente geral, Jean Claude Robert silencia quando é questionado sobre esse assunto, mesmo ao afirmar que os preços já são os mais baixos que podem ser praticados.
Já o diretor de energia da francesa Alstom, empresa que inaugura no final de novembro a sua primeira fábrica de equipamentos eólicos na Bahia, a perspectiva é de que os preços sejam elevados. "Queremos é aumentar os preços, não baixar mais", brincou ele. "Não dá para afirmar para onde o preço deverá ir se para cima ou para baixo, mas para os fabricantes está claro de que o piso está muito próximo, o que afeta diretamente a rentabilidade de um projeto e dificulta a obtenção de financiamento para os parques eólicos", comentou o executivo.
Estudo - A Associação Brasileira da Energia Eólica (Abeeólica), cujo presidente, Ricardo Simões, está em final de mandato, apresentou ontem um estudo no qual aponta que apesar da expansão do setor no Brasil ainda é necessário que o governo adote políticas de longo prazo para que o País ainda se torne um polo para a energia gerada por meio dos ventos.
No documento, a entidade aponta, novamente, a necessidade de que o País adote metas a longo prazo para a contratação da energia eólica. A questão tributária é outra frete de atuação e que as empresas desejam que seja revista para poder enfrentar a concorrência do exterior, mesmo com a obrigatoriedade da existência da obrigatoriedade mínima de 40% de conteúdo nacional nos equipamentos dos parques eólicos. A meta é incentivar o investimento nesse tipo de empreendimento e acesso à rede de transmissão.
"O volume de projetos para energia eólica nos próximos anos parece muito saudável, porém, precisamos olhar a longo prazo. Para isso, o setor necessita de uma política específica para transformar o Brasil em um cluster do setor para a região", diz Simões.
Atualmente, o Brasil possui 1.123 mil MW de capacidade instalada de energia gerada por meio de ventos. Esse número aumentará significativamente por conta de três leilões nos últimos anos que elevarão a potência a 5.175 mil MW, estes já contratados e que deverão entrar em operação até 2014, um aumento de cinco vezes em 3 ano. (DCI)
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